No mês de outubro, a equipe do projeto Além do Algodão realizou a segunda missão ao Benim para dar continuidade às atividades técnicas no departamento de Donga e para a realização da agenda política em Cotonou. A missão teve objetivo de conduzir ações dos eixos de nutrição e agricultura com base no apoio técnico da Universidade Federal do Oeste da Bahia (UFOB), alinhar as ações do projeto ao Plano Estratégico do País e realizar a reunião do Comitê de Acompanhamento do Projeto para aprovação das atividades previstas no Plano de Operativo Anual de 2024-2025.
A delegação visitou um depósito do Programa Mundial de Alimentos (WFP) em Natitingou, onde são armazenados ervilha amarela, óleo, milho e arroz, e também a cooperativa Sorou, que beneficia arroz produzido por agricultores da região. A cooperativa está em processo de formação junto à equipe do projeto para se adequar às normas de qualidade e normativas do WFP para que possa participar de processos de compras institucionais a partir de 2024.
A cooperativa tem atuação nacional e conta com mais de 2 mil agricultoras que comercializam arroz parabolizado nacional e internacionalmente com contratos de, no mínimo, 10 mil toneladas. Em 2023, contaram com 400 mil toneladas de arroz consumido internamente e já chegaram a exportar 1 milhão de toneladas para Nigéria. Em Natitingou, a cooperativa conta com aproximadamente 300 membros.
De modo geral, as agricultoras levam as sacas de arroz bruto até o depósito da cooperativa, onde são pesadas e lavadas para dar início ao processo de parabolização. Visando a maximização dos recursos e redução do impacto ambiental, a cooperativa aproveita os farelos de arroz com serragem para fabricar briquetes, utilizado no lugar da lenha para as caldeiras.
Na vila de Katabam, a UFOB tem acompanhado o desenvolvimento de duas áreas demonstrativas na cooperativa de produtores do vilarejo de Ghomodou. São duas parcelas com base no sistema de agricultura sintrópica agroflorestal, a primeira área com plantio de mandioca, feijão fradinho, soja, manga e mamão; e a segunda, com algodão, quiabo e feijão. Durante a atividades conduzidas com a UFOB, os agricultores puderam tirar dúvidas a respeito da condução do plantio, manejo da fertilidade do solo e aspectos de poda das árvores frutíferas.
Para o controle de pragas, foram confeccionados bioinsumos, visando manter a fertilidade das plantas e atuar no combate as pragas. Os bioinsumos têm sido muito utilizados em áreas de produção orgânica no Brasil, o que é considerada uma boa prática em agricultura sustentável com utilização de materiais coletados na própria área da cooperativa e que podem ser replicados nas áreas de produção dos agricultores sem grandes custos.
Com objetivo de aliar as ações conduzidas pelas atividades de agricultura e nutrição, a consultora de boas práticas do projeto Além do Algodão no Centro de Excelência do WFP, Maria Luiza, ministrou uma oficina sobre o conceito de compras locais da agricultura familiar para mercados institucionais, aplicando-se o caso do Programa Nacional de Alimentação Escolar Integrada do Benim.
A oficina foi estruturada em dois grupos focais: um composto por agricultoras, agricultores, representantes de cooperativas e técnicos de extensão rural; e outro composto por merendeiras e representantes de ONGs locais, responsáveis por acompanhar o programa de alimentação escolar beninense. Ao final da oficina, os participantes puderam constatar que a oferta de alimentos para alimentação escolar é vista como uma possibilidade factível pelos agricultores, sendo os principais desafios melhorar a capacidade de produção, inserir produtos variados, meios de transporte e formas de pagamento adequadas.
Merendeira da escola de Kpandri participa de oficina de nutrição. Foto: Débora Porcino / UFOB
Atividades de nutrição
A primeira atividade de nutrição, direcionada às merendeiras, teve como objetivo a concepção de menus nutricionalmente adequados e compatíveis com a realidade local. As merendeiras organizaram as informações dos cardápios mais utilizados na comunidade. O primeiro, o cardápio real, descreve as refeições comumente servidas na escola durante a semana. No cardápio ideal, as merendeiras consideram as melhores escolhas possíveis para uma semana de funcionamento da escola, considerando um contexto de pleno acesso a todos os alimentos, utensílios e estrutura física.
O terceiro cardápio é o cardápio possível. Com ele, todos os participantes recapitularam os pontos discutidos para elaborar coletivamente um cardápio possível considerando um período de segunda a sexta em que a escola poderá oferecer refeições adequadas, saudáveis e saborosas, com destaque para receitas tradicionais e frutas típicas da região.
A segunda atividade de educação alimentar e nutricional foi direcionada às crianças do ensino fundamental. Durante a atividade, os alunos representavam uma pessoa adulta, com uma profissão específica e, de modo ilustrativo utilizando grãos, as crianças indicavam quais tipos de alimentos seriam necessários para o pleno desenvolvimento desse adulto. O objetivo dessa atividade foi de fortalecer as perspectivas de futuro das crianças e, ao mesmo tempo, apresentar os diferentes grupos alimentares para que compreendessem importância de uma alimentação diversificada.
Impacto do projeto
O projeto Além do Algodão no Benim tem sido fundamental para aumentar progressivamente a compra de alimentos locais. Em 2021, o projeto realizou a primeira compra de 300 toneladas de milho branco e, em 2023, houve uma evolução para 6 mil toneladas. Graças ao acompanhamento fornecido às cooperativas ao longo dos últimos anos, o projeto tem apoiado o governo do Benim na compra local para o Programa Nacional de Alimentação Escolar Integrada (2021), cujo objetivo é cobrir 100% das escolas do país com ao menos uma refeição quente por dia até 2026.
No momento, os esforços do escritório país têm sido de acompanhar o programa e focar as ações na produção local e reforço de capacidades nas ações de nutrição sensível à agricultura. Esse tema importante serviu como norte para a discussão da extensão do projeto no país até 2025, com um redesenho das ações de modo a integrar a produção de alimentos secos e frescos e a compra local para alimentação escolar.
Durante a reunião do Comitê de Acompanhamento do Projeto, além da aprovação das atividades previstas no projeto país, novas ações serão incluídas a fim de catalisar os resultados esperados pelo governo. Serão conduzidas ações que facilitem o acesso à água, práticas de agricultura sustentável, abordagens de agricultura sensível à nutrição e propostas de metodologias de compra local, com foco na produção e comercialização de alimentos frescos para escolas.
Houve também uma visita de cortesia a convite da embaixadora do Brasil no Benim, Regina Bittencourt, com a presença de toda delegação e equipe do projeto para informar à embaixadora a respeito das atividades que serão conduzidas nos próximos anos de projeto em parceria com o governo brasileiro.
Ao final da missão, houve uma reunião de restituição com o diretor e vice-diretora do escritório país para encaminhamentos das próximas ações para os anos de 2024 e 2025 com foco na compra local de alimentos, boas práticas de agricultura sustentável e nutrição sensível à agricultura.
A missão técnica contou com a participação da Universidade Federal do Oeste da Bahia, com a presença da professora Débora Porcino, do departamento de Nutrição, e do professor Mario Alberto, do departamento de Geografia da Universidade Federal do Oeste da Bahia. A missão também contou com a participação de Marenilson Batista, diretor do departamento de assistência técnica e extensão rural do Ministério da Agricultura Familiar.
A agenda política teve participação da Agência Brasileira de Cooperação e do Ministério da Agricultura, Pesca e Pecuária do Benim, da Universidade Federal do Oeste da Bahia e da equipe técnica do projeto no país. Também participaram da missão as equipes de Programas do escritório país e dois representantes do Ministério das Relações Exteriores, especialmente de assuntos ligados às Américas.
O Além do Algodão é uma iniciativa conjunta do Centro de Excelência do WFP e do Governo Brasileiro, por meio da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), com o apoio financeiro do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA).