O cenário da má nutrição entre crianças continua grave em todo o mundo. De acordo com o Relatório do Estado da Segurança Alimentar e Nutrição no Mundo de 2023, 148 milhões de crianças abaixo de cinco anos são afetadas por desnutrição crônica (stunting) e 45 milhões sofrem de desnutrição aguda (wasting). Apesar dos avanços na redução da desnutrição entre crianças, o cenário global não sinaliza que as metas serão atingidas até 2030.

Quanto a prevalência de sobrepeso, foram notificados, em 2022, 37 milhões de casos em crianças abaixo de 5 anos, sendo que esta condição clínica pode levar a problemas respiratórios, hipertensão e outras doenças crônicas não transmissíveis. Dado que o sobrepeso e a obesidade são passíveis de prevenção, entre alguns fatores que contribuem para este panorama estão o consumo de alimentos processados ricos em gorduras, açúcares e energia, além do nível inadequado de atividade física.

O recorte é mais grave para países de baixa ou média-baixa renda, onde houve aumento da desnutrição aguda e sobrepeso na última década (2012 a 2022). O percentual de sobrepeso na América Latina e Caribe é superior à média global, com destaque aos valores percentuais na América do Sul.

A crescente prevalência de excesso de peso em crianças e adolescentes é observada globalmente. De 2000 a 2016, a proporção de crianças (5 a 19 anos de idade) com excesso de peso duplicou no mundo, passando de 1 em cada 10 para quase 1 em cada 5 crianças, segundo o UNICEF (2019). A região da América Latina e do Caribe segue a mesma tendência, com a prevalência de crianças com excesso de peso tendo duplicado desde 1990.   

Esses problemas, além de afetarem saúde e a qualidade de vida das pessoas, também promovem consequências no contexto social e econômico de famílias, comunidades (sobretudo entre pessoas mais vulneráveis) e nas tomadas de decisões de governos.

O Projeto de cooperação Sul-Sul para o Enfrentamento da Múltipla Carga da Má Nutrição em Escolares é fruto de uma parceria entre o Ministério da Saúde, o Centro de Excelência contra a Fome do WFP e a Agência Brasileira de Cooperação do Ministério das Relações Exteriores. Os Ministérios da Saúde da Colômbia e Peru também são parceiros deste Projeto.

Essa troca horizontal de conhecimentos, principalmente no combate ao sobrepeso e obesidade infantil, visa apoiar processos de fortalecimento das instituições públicas nacionais e dos setores de nutrição e saúde considerados fundamentais para a gestão das políticas públicas de alimentação e nutrição nos países parceiros. 

Este projeto busca sinergias e complementaridade com outras iniciativas brasileiras e internacionais do setor, bem como com as atividades desenvolvidas pelos escritórios do WFP na Colômbia e no Peru. 

O projeto foi formalizado em dezembro de 2019 e o primeiro workshop com os países cooperantes aconteceu em dezembro de 2020 Durante os anos de implementação, as entidades cooperantes produziram materiais de apoio e capacitação para gestores e materiais educativos para o público infantil. Outras ações também incluem elaboração de análises comparativas para criação de evidências sobre a múltipla carga da má nutrição e, especialmente, o sobrepeso e obesidade nos países envolvidos, além do fortalecimento de redes de conhecimento e participação em seminários nacionais e internacionais sobre o tema. A participação em eventos internacionais também ocorreu para compartilhar informações do projeto com outros países.

BRASIL

A Atenção Primária à Saúde (APS), principal nível do Sistema Único de Saúde (SUS) para prevenção e controle de doenças, diagnosticou, em 2021 que 356 mil crianças entre 5 a 10 anos apresentavam obesidade no Brasil, onde a maior concentração de dados estava na região Sul (11,52%) seguido do Sudoeste (10,41%), Nordeste (9,67%), Centro-Oeste (9,43%) e Norte (6,93%). Além disso, o Atlas da obesidade infantil no Brasil (2019) apontou que entre crianças de 6 a 23 meses, 48% consumiam alimentos ultraprocessados, 32% consumiam bebidas adoçadas, 28% ingeriam biscoitos recheados, doces ou guloseimas, e 23% faziam ingestão de macarrão instantâneo, salgadinhos ou biscoitos salgados.

Sobre a desnutrição, dados obtidos na plataforma do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional em 2023 apontaram que, entre crianças de 0 a 5 anos, 1,13% destas possuíam peso muito baixo para idade e 2,57% peso baixo para a idade. Os números são mais alarmantes entre crianças indígenas, pardas e pretas. A desnutrição entre crianças pode ocasionar repercussões irreversíveis, como a baixa estatura, rendimento escolar inadequado e baixa produtividade na vida adulta, fatores que promovem a transmissão intergeracional da pobreza.

 

Parceiros

COLÔMBIA

Na Colômbia, de acordo com a Pesquisa Nacional de Situação Nutricional (ENSIN, 2015) entre crianças de 0 a 4 anos, 10,8% apresentavam baixa estatura (desnutrição crônica) enquanto 6,4% possuíam excesso de peso. Os números elevam na faixa etária de 5 a 12 anos, sendo 7,2% de baixa estatura e 24,4% para excesso de peso. Já na adolescência (13 a 17 anos), o país registrou 17,9% de excesso de peso.

Parceiros

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PERU

Segundo o Instituto Nacional de Saúde e o Instituto de estatística e informática do Peru, no período de 2017 a 2021 as prevalências de baixa estatura foi de 11,5% e 20,4% para crianças de 0 a 59 meses e adolescentes de 12 a 17 anos, respectivamente. Quanto ao excesso de peso, 38,4% das crianças de 6 a 13 anos apresentavam esta comorbidade, assim como 24,8% dos jovens entre 12 a 17 anos. Para crianças de 6 a 13 anos, a prevalência de sobrepeso e obesidade foram, respectivamente, 22,4% e 16,0%. Por fim, entre jovens de 12 e 17 anos, foram notificados, respectivamente, dados de sobrepeso e obesidade com valores de 19,3% e 5,5%.

Parceiros

 

Publicações e Vídeos

Diante deste cenário e ações importantes para conter a desnutrição e obesidade, incentivar a alimentação adequada e saudável, a diminuição do comportamento sedentário e da inatividade física e ações voltadas para a saúde das crianças é papel de toda a sociedade. Devido às altas prevalências, a obesidade infantil merece a atenção de todos por meio de ações diversas, multidimensionais e intersetoriais como, exemplificado nos documentos e vídeos abaixo.   

Ao longo dos anos, o projeto Nutrir o Futuro desenvolveu policies briefs que orientam gestores públicos e profissionais da saúde quanto a medidas importantes para conter o avanço da obesidade infantil.

 

O policy  “Obesidade Infantil – Estratégias para Prevenção e Cuidado (em nível local)” contextualiza o cenário e fatores da promoção crescente da obesidade; destaca as principais alternativas para prevenção da obesidade (a promoção da saúde nas escolas, medidas fiscais, dentre outras); o papel da Atenção Primária à Saúde; e ambientes alimentares saudáveis nas cidades.

 

O segundo policy destinado à obesidade infantil, “Ações de Prevenção e Atenção no Brasil, Colômbia e Peru”, além de medidas presentes no anterior, transmite informações relacionadas a importância do aleitamento materno para ganho de peso; impactos na saúde mental e obesidade; relevância de ações entre diferentes setores (saúde, assistência social, etc.); e contribuições dos guias alimentares e atividade física para controle do excesso de peso.

 

O terceiro documento intitulado “Enfrentamento da Múltipla Carga de Má Nutrição” aborda como a má nutrição, ou seja, o desenvolvimento de desnutrição, obesidade e/ou carência de micronutrientes, atinge populações, sobretudo as mais vulneráveis. Somado a isto, o produto apresenta como a desigualdade social, habitações inadequadas, pobreza e outros fatores podem corroborar para a multiplica carga da má nutrição. Para conter estes determinantes sinérgicos, o policy, destinado a gestores públicos, apresenta alternativas para conter estas adversidades.