
No dia 3 de dezembro, Brasília sediou o lançamento nacional da Série The Lancet – Alimentos Ultraprocessados e Saúde Humana. O evento, realizado no auditório da Fiocruz, contou com apresentações científicas dos três artigos da Série, conduzidas por Carlos Monteiro, Patricia Jaime, ambos do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da USP, e Phillip Baker, da Universidade de Sidney. A chef e apoiadora de alto nível do WFP no Brasil, Rita Lobo, abriu o debate e mediou o painel sobre Políticas Públicas na América Latina.
“Trabalho com o Nupens há mais de 10 anos, e passei a participar de eventos médicos e científicos onde antes pouco se falava sobre cozinhar. Estou aqui para valorizar a cozinha como o espaço de todas as pessoas da casa, onde cozinhar pode ser uma tarefa de todos para comer comida de verdade, sem ultraprocessados”, disse Rita Lobo.
Artigos
Durante a apresentação dos artigos na The Lancet, o professor Carlos Monteiro destacou que o consumo de alimentos ultraprocessados está diretamente associado ao aumento de doenças crônicas, o que significa uma ameaça à saúde pública, e falou sobre a nova classificação, que indica a proporção de alimentos ultraprocessados na composição.
“Passamos a ter marcadores de ultraprocessamento que mostram a inclusão de substâncias que são de uso exclusivamente industrial nos alimentos, e que ninguém tem na cozinha, o que ajuda na identificação dos alimentos ultraprocessados”, explicou.
Ele mencionou que uma das táticas da indústria dos ultraprocessados é o forte marketing para criar um novo padão de alimentação e convencer as pessoas a substituir a comida de verdade, que é saudável, pelos ultraprocessados, cheios de aditivos químicos.
“É uma indústria que convence que tomar refrigerante é melhor do que tomar água, comer iogurte ‘sabor morango’ é melhor do que o iogurte natural com fruta fresca, comer nuggets é melhor do que comer frango”, exemplificou.
Patricia Jaime reforçou a necessidade de políticas robustas para enfrentar a expansão dos ultraprocessados. “Regular a produção, a publicidade e o consumo dos alimentos ultraprocessados é uma questão de saúde coletiva. Além disso, é preciso conectar o tema da produção de alimentos à pauta ambiental, com uso sustentável de recursos”, afirmou.
Phillip Baker destacou o protagonismo de políticas públicas brasileiras que privilegiam a segurança alimentar, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar, e trouxe a perspectiva global do problema, demonstrando como as grandes corporações buscam produzir a integralidade dos alimentos das pessoas, do café da manhã ao jantar. Para ele, o desafio é construir uma ação coordenada entre países, enfrentando o poder corporativo e promovendo sistemas alimentares saudáveis em escala mundial.
Debate
Durante o debate, Eliene Sousa, coordenadora de Projetos e nutricionista do Centro de Excelência contra a Fome do WFP no Brasil, destacou as experiências que o Brasil promove, por meio da cooperação Sul-Sul nas trocas para reforçar as políticas de segurança alimentar e nutricional e na promoção de sistemas alimentares sustentáveis nos países parceiros.
O debate destacou que organismos internacionais, sociedade civil e governos devem trabalhar de forma conjunta nos esforços contra o avanço dos ultraprocessados. Eliene Sousa mencionou que o WFP, a maior agência humanitária do mundo, que faz distribuição de alimentos em casos de emergência, já incluiu em seu “Planejamento de notas orientadoras sobre assistência alimentar nutricionalmente adequada”, de outubro de 2025, a não recomendação de distribuição de alimentos ultraprocessados, com o alerta de que eles aumentam o risco de obesidade e de uma variedade de doenças crônicas para saúde física e mental.
O evento também contou com falas de Adriano Massuda, Secretário-Executivo do Ministério da Saúde; Patrícia Gentil, representante do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome; Paula Johns, da ACT Promoção da Saúde; além de Elisa Prieto Lara, da OPAS/OMS; Jorge Meza, da FAO; e Joaquin Gonzalez-Aleman, do Unicef. O Ministério da Saúde do Peru, representado pela ministra Beatriz Quispe Quille, também teve uma participação, com fala online no evento.
Revista científica
A revista médica britânica The Lancet é considerada uma referência em diagnósticos e pareceres da área médica em todo mundo.
O evento foi realizado pelo Nupens/USP, pela Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz Brasília, pela Organização Pan-Americana da Saúde / Organização Mundial da Saúde (OPAS/OMS), pelo Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos (WFP) das Nações Unidas no Brasil e pelo Ministério da Saúde do Brasil.
A íntegra do lançamento em português, inglês e espanhol pode ser vista no canal de YouTube do @WFPBrasil, que também transmitiu ao vivo o evento.




