Líderes mundiais reunidos em Sharm el-Sheikh, Egito, em novembro, precisam agir rapidamente para ajudar milhões de pessoas que enfrentam o aumento da fome e da inanição
24 de outubro de 2022, Jenny Wilson
Este artigo faz parte de uma série que coincide com a conferência climática da ONU deste ano – a COP27 – que acontece em novembro. Clique acima para assistir ao vídeo e leia mais aqui (em inglês)
A crise climática está levando cada vez mais pessoas para a beira do abismo em um ano de fome sem precedentes. Ondas de calor, secas, inundações e tempestades estão aumentando em intensidade e frequência, impactando a capacidade das pessoas de alimentar suas famílias.
Em locais como o Iêmen, a Somália e a República Democrática do Congo, onde os impactos climáticos se somam aos conflito, a fome é uma ameaça sempre presente.
Assim, enquanto os líderes mundiais se preparam para se reunir em Sharm el-Sheikh, no Egito, para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP27) de 2022, entre 6 e 18 de novembro, o Programa Mundial de Alimentos (WFP) pede uma ação urgente para apoiar aqueles que estão na linha de frente da emergência climática.
Aqui estão três prioridades em que eles devem se concentrar:
- Expandir a adaptação climática e soluções para evitar, minimizar e lidar com perdas e danos
Nigéria: Huawa, de 37 anos, na frente de sua casa em Gigir, estado de Yobe, destruída por inundações em outubro – eventos climáticos extremos destroem plantações e interrompem o acesso das pessoas à comida. Foto: WFP/Arete/Khalid Abdulsalam Hamza
Desde inundações devastadoras no Paquistão, que afetam uma em cada sete pessoas no país, até secas consecutivas empurrando as pessoas para a beira da fome no Chifre da África, eventos climáticos extremos estão acontecendo em todas as regiões do mundo.
As comunidades precisam de soluções para se proteger e proteger sua capacidade de acessar alimentos. Os líderes globais precisam investir em sistemas que prevejam os riscos climáticos e forneçam proteção física e financeira aos mais vulneráveis.
Sudão do Sul: Alek, de 45 anos, cultiva mandioca resistente à seca no estado de Warrap, condado de Twic, com sementes fornecidas pelo WFP – a mudança climática é uma das principais causas da crise global de fome. Foto: WFP/Gabriela Vivacqua
Antes das recentes inundações no Nepal, por exemplo, o WFP lançou seu programa de ação antecipatória – que usa sistemas de alerta para garantir ações antes de desastres ocorrerem – transferindo dinheiro para mais de 15.000 pessoas em três dos distritos mais atingidos. Os fundos ajudaram as comunidades a se prepararem para as enchentes, se protegerem e evitarem perdas e danos, por exemplo, comprando alimentos, reforçando casas ou movendo pessoas vulneráveis para terrenos mais altos.
- Investir na ação climática em comunidades fragilizadas
Somália: Responder às necessidades de pessoas forçadas a se mover pela mudança climática é fundamental – Faduma, de 54 anos, é recebida em Dolow após sair de Dinsor, a mais de 300km de distância. Foto: WFP/Patrick Mwangi
Aqueles que vivem na linha de frente das mudanças climáticas muitas vezes também são impactados por conflitos, deslocamentos e desigualdades sociais. Essas comunidades precisam de mais apoio, mas recebem menos. Nos últimos sete anos, países considerados não fragilizados receberam 80 vezes mais financiamento climático por pessoa do que países extremamente fragilizados.
Para enfrentar a crise climática e garantir que todos tenham comida suficiente para comer, devemos priorizar ações e financiamentos para áreas vulneráveis e atingidas por conflitos, apoiando as comunidades a se adaptarem a um clima em mudança, ao mesmo tempo em que construímos a paz.
Os projetos do WFP se concentram em ambos. Por exemplo, na Somália, no início deste ano, sabendo que o país continuaria a ser tomado por uma seca extrema, o WFP trabalhou com o governo para entregar mensagens antecipadas de alerta a 1,2 milhão de pessoas. O WFP também apoiou 17.000 pessoas vulneráveis que vivem em áreas remotas com transferências de dinheiro, para proteger suas vidas e meios de subsistência.
À medida que a Somália enfrenta a ameaça iminente de fome em partes do país, priorizar a ação climática para as comunidades mais vulneráveis é mais importante do que nunca.
- Transformar sistemas alimentares
Namíbia: Mama Regina está entre 1.800 agricultores em Katima Mulilo, Zamibizi, treinados pelo WFP em tecnologias e técnicas agrícolas para fortalecer os sistemas alimentares. Foto: WFP/Luise Shikongo
As atividades de produção, processamento e transporte de alimentos para nossas mesas não são equitativas ou sustentáveis. Por um lado, eventos climáticos extremos causam destruição em todos os sistemas alimentares; por outro, os sistemas alimentares são os principais contribuintes para o aquecimento global. Agricultura, transporte e culinária contribuem com emissões significativas e prejudiciais que estão elevando a temperatura do nosso planeta.
A falta de diversidade em nossos sistemas alimentares, a dependência de práticas poluentes e a exposição a rupturas como conflitos, estão ameaçando a segurança alimentar global. Um recorde de 345 milhões de pessoas em 82 países atualmente enfrentam fome aguda – contra 282 milhões no início do ano.
Isso não precisa ser uma espiral descendente. Sabemos que o mundo tem comida suficiente para todos se fosse simplesmente distribuída equitativamente. Também temos conhecimento, tecnologia e soluções inovadoras para reverter a relação negativa entre sistemas alimentares e mudanças climáticas.
O que o WFP está fazendo
Iêmen: Participantes de um programa do WFP limpam um canal em Seiyun, Hadramawt, após inundações devastadoras em 2021. Foto: WFP/Mohammed Awadh
Em 123 países e territórios, o WFP apoia comunidades que enfrentam alguns dos piores impactos de eventos climáticos extremos para construir sua resiliência em um clima em constante mudança.
Trabalhamos com os governos locais para antecipar os riscos climáticos antes que eles se transformem em desastres, restaurar ecossistemas e infraestruturas degradados, proteger os mais vulneráveis com redes de segurança financeira e dar às pessoas novas oportunidades de cultivar, cozinhar e alimentar suas famílias por meio do acesso à energia limpa.
Em cinco países da região do Sahel na África Ocidental e Central – Burkina Faso, Chade, Mali, Mauritânia e Níger – o WFP implementa um programa integrado de resiliência que apoia a adaptação climática e, ao mesmo tempo, protege os sistemas alimentares.
Paquistão: Um casal busca lugar seguro em Peshawar, que foi atingida por enchentes em agosto – a resposta de emergência é um aspecto central do trabalho do WFP, mas ações como assistência financeira empoderam as pessoas após os desastres. Foto: Hussain Ali/Agência Andolu via AFP
Na prática, isso significa reabilitar a terra, melhorar o acesso das pessoas a alimentos e dietas saudáveis, levar as crianças de volta à escola e desenvolver cadeias de valor para aumentar a renda e os empregos verdes.
Por exemplo, apesar da crescente insegurança na região, o WFP e as comunidades reabilitaram cerca de 158.000 hectares de terra degradada no Sahel nos últimos quatro anos por meio de iniciativas como as “meias-luas” – que coletam e mantêm a água das chuvas no solo.
Com maior ambição e vontade política, podemos diversificar, diminuir a emissão de carbono e melhorar a resiliência de nossos sistemas alimentares para enfrentar simultaneamente a crise climática e a insegurança alimentar.
Os líderes mundiais têm um grande desafio pela frente, mas com uma ação global coordenada, podemos enfrentar a crise climática.
Cop27 acontece em Sharm el-Sheikh, Egito, de 6 a 18 de novembro.