Por Daniel Balaban
Atribuem a Einstein uma frase que nunca houve comprovação que ele tenha dito. Contudo, nem por isso ela está errada: “Insanidade é continuar fazendo sempre a mesma coisa e esperar resultados diferentes”. Atualmente, por causa da pandemia de Covid-19, cerca de 300 milhões de crianças no mundo todo estão sem acesso às refeições escolares das quais dependem. Para resolver esse problema, precisamos de soluções inovadoras.
Inovar significa explorar novos procedimentos para oferecer algo diferente a um público que precisará ser apresentado a novas modalidades de apoio para os beneficiários afetados. Inovar em tempos de crise não é apenas uma alternativa, mas, sim, uma necessidade. Uma decisão estratégica. Momentos de crise oferecem também oportunidades únicas para que os líderes e gestores públicos se concentrem em encontrar soluções mais adequadas às necessidades da população.
O WFP, Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, e maior agência humanitária do mundo, estima que, globalmente, mais de 860 milhões de crianças – aproximadamente metade da população estudantil do mundo – estão longe das escolas devido a paralisações destinadas a impedir a propagação do Covid-19. E esse número tem aumentado a cada dia.
Nos países onde as escolas estão fechadas e onde há presença de um escritório nacional do WFP, a organização está avaliando possíveis alternativas com os governos nacionais. Isso inclui fornecer alimentos para levar para casa, entrega em domicílio de alimentos e fornecimento de dinheiro ou cartões para compra de alimentos.
Sem soluções alternativas, muitas crianças em todo o mundo, impedidas de frequentar a escola, passariam fome. Essa ideia de levar alimentos para casa beneficia não apenas as crianças, mas também suas famílias, uma vez que as crianças continuam tendo suas necessidades alimentares assistidas e reduz-se a pressão sobre as famílias. Os governos de alguns países como Argentina, China, EUA, Grã-Bretanha, França e Canadá também adotaram mecanismos especiais para garantir que estudantes mais vulneráveis não passem fome.
Mas a situação é muito mais precária para crianças que vivem em países afetados por extrema pobreza, conflito armado e cujos sistemas de saúde são frágeis. O WFP trabalha para que as 18 milhões de crianças que dependem da organização através de programas de alimentação escolar em 61 países continuem a receber alimentos, mesmo sem poder frequentar as escolas.
Várias maneiras alternativas de fornecer comida às crianças fora da escola estão sendo estudadas. E o nosso WFP Centro de Excelência, baseado no Brasil, está desenvolvendo opções para ajudar vários desses países que têm programas nacionais a buscarem soluções para a emergência do momento.
No Brasil, são mais de 40 milhões de estudantes que recebem alimentação escolar todos os dias e que podem ser afetados. Algumas opções estão à mão do governo brasileiro, que estuda estrategicamente qual a melhor solução para esta questão. Alternativas que possam incluir o aproveitamento dos estoques de alimentos já comprados pelos governos para o Programa Nacional de Alimentação Escolar podem ser um caminho eficiente e eficaz: para evitar o desperdício de alimentos já adquiridos por estados e municípios; continuar comprando de agricultores familiares, gerando renda durante a crise; e permanecer alimentando as alunas e os alunos afetados.
Lembremo-nos que, para várias famílias brasileiras, a alimentação servida na escola é a principal, mais nutritiva e, para muitos, a única que o estudante recebe ao longo do dia.
Não sabemos ainda quanto tempo vai durar a reclusão até a vitória final contra a pandemia. Com certeza, será tempo demais para essas crianças. Temos que tomar medidas já.
O WFP Centro de Excelência do Brasil está em contato próximo para compartilhar ferramentas e ideias com outros países de como o governo do Brasil irá conduzir a crise em relação à alimentação escolar. Sabemos, contudo, que são soluções temporárias. Mas estamos em um momento de emergência. O que não podemos é não fazer nada e assistirmos a fome voltar a bater à porta dessas crianças e suas famílias. Como colocado pela diretora da Divisão de Alimentação Escolar do WFP, Carmem Burbano, nossas crianças até podem assistir a aulas virtuais, mas não podem se alimentar virtualmente.
Daniel Balaban é Diretor e Representante do WFP Centro de Excelência contra a Fome Brasil
Economista e Mestre em Relações Internacionais. Especialista em Políticas Públicas, Cooperação Internacional, Mobilização de Governos e Iniciativas Inovadoras.