“Estudei em escola pública por muitos anos e sei a importância da alimentação escolar. É incrível olhar para trás e hoje ver que eu faço parte da missão de contribuir para um mundo sem fome”, afirma a assistente de compras do Centro de Excelência Contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos (WFP), Rafaella Gomes.
Rafaella sempre teve que batalhar muito para chegar onde chegou. Para aprender a língua inglesa, por exemplo, precisou entrar em uma fila às 5h da manhã junto com sua irmã para conseguirem uma vaga em uma instituição que oferecia o curso gratuitamente próximo a sua casa. Precisou trabalhar por muitos anos antes de conseguir pagar as mensalidades da faculdade de Administração, que concluiu em 2009. Foi vendedora em papelaria nos inícios do anos letivos, telefonista em hotéis, deu aulas de inglês. Até ser contratada, em 2008, como secretária em uma multinacional chinesa e com sua dedicação, esforço e comprometimento foi crescendo até chegar ao posto de coordenadora administrativa. Trabalhou nesta empresa por quase cinco anos, mas teve que deixar o trabalho para cuidar de assuntos pessoais da família.
Em 2014, após um ano estudando para concurso público e um ano trabalhando em um cargo que era aquém de suas qualificações, ficou sabendo de um processo seletivo para servir como assistente administrativa para o Centro de Excelência Contra a Fome do WFP. Foi selecionada, mas sem saber muito como a ONU e suas agências, fundos e programas operavam no Brasil. Cinco meses depois, após avaliar sua capacidade de rápido aprendizado e seu comprometimento com a Organização, foi convidada a participar de um processo seletivo para o cargo de assistente de Compras, posto que ela ocupa até hoje no WFP e que desempenha com muito orgulho e satisfação profissional.
“Trabalhar na maior agência humanitária do mundo e ter a oportunidade de me qualificar com o apoio da ONU na área de compras é como um troféu pra mim. Poder fazer parte do que o WFP faz no mundo e pelo mundo é o que me mantém motivada em estar todos os dias desempenhando o meu trabalho da melhor maneira possível para ajudar àqueles que ainda precisam de auxílio para ter alimentos para sobreviver”, afirma Rafaella.
Em todos esses anos, Rafaella entendeu o grande papel que exercia ao atender as demandas do pessoal da área de programas e buscou construir uma relação baseada na confiança e no entendimento mútuo. Ao mesmo tempo em que o trabalho que desempenha é normatizado por diversas regras, manuais e orientações, Rafaella busca entender as demandas urgentes dos colegas e encontrar as melhores soluções para seguir as regras e atender às necessidades programáticas ao mesmo tempo.
Ela diz que o maior desafio do seu trabalho é o grande número de missões e a variedade de países que solicitam visitas de estudos ao Brasil para aprender como o país conseguiu implantar o seu Programa de Alimentação Escolar. Isso gera uma demanda enorme de pedidos de compras e identificação de fornecedores. “Uma vez recebemos ao mesmo tempo delegações de três países diferentes, com exigências diferentes, orçamentos variados e línguas distintas. Foi uma correria. Para isso, tive que fazer uma pesquisa com as outras agências da ONU para descobrir os melhores fornecedores que conseguiriam atender a todas as exigências contidas nos pedidos de compras da unidade de programas suprindo a todas as necessidades das delegações”, relembra.
Em breve, Rafaella dará à luz a Cloe. Grávida de sete meses, ela diz que vai incentivar a filha a ser uma mulher guerreira e empoderada assim como a mamãe. “A minha área é muito masculina e quero mostrar para ela que as mulheres trabalham em qualquer área. Como mulher trazemos sensibilidade, cuidado, organização, atenção aos detalhes, que em uma área muito prática podem fazer toda a diferença”, finaliza com lágrimas nos olhos.