Há seis anos, Igor Carneiro estava na região do semiárido da Bahia, trabalhando em um projeto de desenvolvimento rural para fornecimento de água, construção de casas e outras ações sociais. Durante uma visita técnica, uma senhora de 70 anos, Dona Maria, demonstrou, com um abraço, seu agradecimento: as filhas e netas não teriam mais que andar 10km para pegar água. “Aquele episódio me emocionou e me fez ver que aquela era a razão de trabalhar com assistência humanitária e desenvolvimento internacional”, relembra Igor, hoje Oficial Sênior de Programas no Centro de Excelência contra a Fome do WFP.
Com doutorado em Políticas Públicas, Igor também tem formação em economia, administração e desenvolvimento humano. Filho de um profissional que fez carreira na FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura), teve oportunidade de morar em outros países e aprender várias línguas desde cedo. “Desde os quatro anos de idade eu vivia em um ambiente internacional, me estimulando a seguir carreira nessa área. Mas também sempre tive um perfil comercial, sempre gostei da área de desenvolvimento de negócios, e a minha primeira formação acadêmica foi no Canadá em Negócios Internacionais”, conta.
Durante o curso, Igor orientou alguns trabalhos acadêmicos e sentiu vontade de seguir nessa área por um tempo. “Quando voltei para o Brasil, fiz um mestrado na área de gestão estratégica e fui professor adjunto por quase três anos”. Mas não era ali onde queria estar. “Minha missão de vida é ajudar pessoas, agregar conhecimento para ajudar as pessoas a saírem da situação em que elas estão. Mas percebi que estava fugindo do meu plano inicial de estar envolvido em projetos internacionais”, lembra.
Em 2006, recebeu um convite para atuar no então Ministério da Ciência e Tecnologia, no Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Ali, teve contato com inovação e, em seguida, foi para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), para trabalhar com inovação no meio corporativo e empresarial, também se engajando em projetos internacionais. Em 2012, recebeu um convite para coordenar um projeto no Banco Mundial. Ao mesmo tampo, fazia trabalhos de consultoria para o FIDA (Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola) e também para a FAO.
“Fui percebendo que o que eu mais gostava era de trabalhar com agricultura e desenvolvimento rural. Percebi que podia ajudar pessoas do campo a terem uma vida melhor, enquanto que nos outros setores, como energia e transportes, as mudanças eram mais ‘macro’. Eu não lidava com pessoas, mas com instituições. E no desenvolvimento rural eu lidava com pessoas”, diz.
Trabalho no WFP
Igor Carneiro juntou-se à equipe de Programas do Centro de Excelência do WFP em Brasília em junho de 2018, como Oficial Sênior de Programas, um trabalho que combina o seu interesse por agricultura, desenvolvimento rural e cooperação Sul-Sul. “Por causa da minha experiência com o Banco Mundial e também na área financeira e fundos internacionais, minha função no Centro seria fazer a conexão entre Programas e a visão internacional financeira”, explica. Parte do seu trabalho consiste em buscar inovação, expandir parcerias e também atuar no trabalho programático, fazendo a ligação da área financeira com projetos. Um exemplo recente foi o trabalho entre o Centro de Excelência no Brasil e o WFP no Gâmbia em um processo de liberação de US $ 16 milhões para alimentação escolar.
Outras atribuições incluem fornecer assistência técnica e apoio na elaboração de políticas públicas de outros países, preparação e implementação de projetos, preparação de orçamentos e outros documentos, além de fazer viagens de trabalho aos países assessorados. “Para muita gente, o trabalho da ONU está ligado apenas às viagens e as relações com pessoas de alto escalão dos governos, pouca gente associa a ONU ao trabalho técnico, de colocar a mão na massa, no campo”, avalia.
Outra tarefa encarada como desafio por Igor foi estruturar o trabalho diversificado do escritório para mostrá-lo de maneira organizada para parceiros e países que solicitam nosso apoio. “O desafio tem sido criar uma taxonomia de produtos e serviços do Centro de Excelência para extrair a raiz do trabalho, que, agora, além de focar na alimentação escolar, também visa alcançar as ascendências do WFP, como o apoio à distribuição de alimentos, especialmente da agricultura familiar e seu acesso a mercados institucionais, nutrição, assim como outras de redes de proteção social, sempre com base na cadeia de alimentos”.
Além do interesse em agricultura, desenvolvimento rural e cooperação Sul-Sul, Igor também tem uma paixão pelo poder transformador da educação. Ele dá cursos de desenvolvimento humano e de competências e leva grupos de estudantes para programas de intercâmbio na NASA. “Gosto de lidar com capacitação de jovens. Vejo na juventude uma possibilidade de mudança.”