Durante três dias, 90 representantes de 25 países africanos, inclusive sete ministros, dedicaram seu tempo, conhecimento e habilidades à busca de formas de fazer com que a alimentação escolar continue avançando na África. O III Seminário Regional sobre Alimentação Escolar aconteceu em Nairóbi de 29 a 31 de maio. A primeira versão do estudo sobre o status e os impactos da alimentação escolar nos países-membros da União Africana foi o principal tópico de debate. Após discutir os achados e recomendações do estudo, os participantes acordaram uma lista de recomendações que devem ser incorporadas às estratégias nacionais de alimentação escolar.
Os resultados do estudo foram apresentados para que os países presentes se apropriassem deles e fizessem contribuições e, em seguida, validassem o estudo e uma lista de recomendações incisivas que serão apresentadas aos chefes de estado da União Africana em julho. O seminário foi organizado de modo a facilitar e promover o compartilhamento de experiências para fortalecer programas nacionais de alimentação escolar vinculados à compra local de alimentos, como instrumento para ampliar o acesso, retenção e desempenho da educação na África. Essa abordagem está alinhada com a Estratégia Continental de Educação para a África, a Agenda 2063 da União Africana e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
O estudo é resultado da parceria entre o Centro de excelência contra a Fome e a União Africana e foi realizado pelo Economic Policy Research Institute.
Compromisso
Na sessão de abertura, o comissário da União Africana para Recursos Humanos, Ciência e Tecnologia, Dr. Martial De-Paul Ikounga, afirmou: “Não podemos alcançar os objetivos da Agenda 2063 e a visão da União Africana se nossas crianças não frequentam a escola. Espero que o ministro da Educação do Quênia seja nosso principal mobilizador para envolver outros ministros da Educação africanos e ministros de outros setores nos esforços de alimentação escolar na África”.
“Não podemos alcançar os objetivos da Agenda 2063 e a visão da União Africana se nossas crianças não frequentam a escola”.
Dr. Fred Okeng’o Matiang’i, chefe de gabinete do Ministério da Educação, Ciência e Tecnologia do Quênia, fez um discurso arrojado que destacou a responsabilidade dos países com relação às crianças e a importância da cooperação entre países em desenvolvimento. “Como africanos, a maior responsabilidade que temos é alimentar nossas crianças e criá-las de forma responsável. Se queremos ser respeitados, é hora de discutirmos uns com os outros sobre como queremos alimentar e educar nossas crianças, em vez de deixar outros nos dizerem o que fazer. Cinco décadas depois da independência, não podemos discutir como outros vão alimentar nossas crianças, é nossa responsabilidade. A Agenda 2063 não poderá ser alcançada se nossas crianças estão com fome e fora da escola”.
“Cinco décadas depois da independência, não podemos discutir como outros vão alimentar nossas crianças, é nossa responsabilidade”.
A cooperação Sul-Sul esteve no centro do debate durante o seminário. A troca de informações e experiências entre países africanos foi destacada em muitos dos discursos e na agenda do evento. Quase todos os países presentes puderam apresentar os progressos e desafios de seus programas de alimentação escolar. Abdou Dieng, diretor do escritório regional do PMA em Dacar, afirmou: “o progresso recente que percebemos na área de alimentação escolar em países africanos está relacionado à cooperação Sul-Sul e ao trabalho do Centro de Excelência no Brasil.” Anna Maria Graziano, da Agncia Brasileira de Cooperação, informou que “o Brasil pretende desenvolver uma estratégia global de cooperação Sul-Sul em segurança alimentar e nutricional para aprimorar a coordenação, efetividade, monitoramento e visibilidade de suas iniciativas”.
“O progresso recente que percebemos na área de alimentação escolar em países africanos está relacionado à cooperação Sul-Sul e ao trabalho do Centro de Excelência no Brasil.”
Communiqué
Ao final do evento, os participantes firmaram um communiqué que endossa as recomendações do estudo, que abarcam desde o vínculo entre programas de alimentação escolar com agendas nacionais e continentais de desenvolvimento até a busca por estratégias inovadoras de financiamento. As recomendações também reforçam a importância de os países aprenderem uns com os outros por meio de iniciativas de cooperação Sul-Sul.
Após as discussões e apresentações técnicas, os participantes concordaram que a próxima reunião deve acontecer no âmbito do recém-lançado Grupo de Alimentação Escolar da Estratégia Continental de Educação para a África (CESA). A Rede Africana de Alimentação Escolar, atualmente presidida pelo Senegal, lançou sua plataforma online para facilitar as discussões e intercâmbios entre seus membros. Os participantes do seminário concordaram que a Rede deve ser membro do Grupo da CESA. Também recomendaram que o PMA e o Centro de Excelência sejam parceiros estratégicos do Grupo da CESA.
O governo do Zimbábue anunciou que o país vai sediar o evento oficial do Dia Africano de Alimentação Escolar de 2018, em 1º de março. “O vínculo entre alimentação escolar e agricultura local é um desafio contínuo que nós devemos sempre enfrentar. Vamos chegar a soluções diferentes para diferentes circunstâncias”, afirmou Dr. Lazarus Dokora, ministro da Educação do Zimbábue.
“A União Africana aprecia a presença dos ministros de estado. Sua participação é muito encorajadora”, afirmou Dra. Beatrice Njenga, chefe de Educação da Comissão da União Africana. “Nos últimos três dias pude ver nos seus olhos que vocês realmente querem desenvolver políticas nacionais sustentáveis de alimentação escolar. Isso é fundamental, porque a vontade política é o mais importante”, afirmou Daniel Balaban, diretor do Centro de Excelência.
“Nos últimos três dias pude ver nos seus olhos que vocês realmente querem desenvolver políticas nacionais sustentáveis de alimentação escolar”
O III Seminário Regional sobre Alimentação Escolar foi organizado pelo Centro de Excelência contra a Fome, o PMA, a União Africana e a Agência Brasileira de Cooperação.
Foto: WFP/Isadora Ferreira