“Eu estava sentada num sofá na recepção, ansiosamente esperando minha entrevista para uma vaga de estágio no Centro de Excelência. Passou uma funcionária, linda, de salto alto, com cara de muito ocupada. Ela me cumprimentou, me ofereceu uma água e um café. Passou a segunda funcionária com as mesmas características e a mesma gentileza. Passaram a terceira e a quarta, e eu pensei: ‘nossa, que lugar incrível, que mulheres incríveis, é aqui mesmo que quero trabalhar!’”
Assim começou a trajetória de Gabriela Marques no Centro de Excelência contra a Fome, do Programa Mundial de Alimentos. O ano era 2015, e ela ainda era estudante de Relações Internacionais e estava tentando uma vaga de estágio na área de recursos humanos. Por seu preparo, sua experiência prévia no Ministério das Relações Exteriores e suas habilidades com diferentes idiomas, Gabriela foi selecionada para o estágio.
Segundo Gabriela, estudar Relações Internacionais foi uma escolha natural. “Não havia nenhum outro curso com o qual eu me identificasse, Relações Internacionais sempre me pareceu o único caminho, o meu caminho”. Mas a vida universitária foi menos do que a estudante organizada e diplomática esperava. “Eu sabia que uma atuação somente na área acadêmica não iria me satisfazer, à medida que avancei no curso, percebi que soluções apenas teóricas, vindas de fora para dentro e que não levavam em conta as complexidades e contextos internos não funcionavam tão bem quanto aquelas construídas por meio da cooperação. Vi que a ONU tinha soluções interessantes nessa área e comecei a me interessar pela instituição”.
Gabriela seguia diversas agências da ONU pelas redes sociais e acabou sabendo da vaga de estágio no Centro de Excelência. Durante o ano em que foi estagiária, preparou sua monografia de conclusão de curso sobre assistência humanitária e cooperação Sul-Sul, com foco na inovação da abordagem do Centro. Durante a finalização do processo de escrita de sua monografia e ainda alguns meses antes de se formar, Gabriela foi contratada como assistente da Unidade de Programas.
A transição de estagiária para funcionária não foi simples. Por ter começado a trabalhar no Centro com apenas 20 anos e como estagiária e por ter uma personalidade doce, as pessoas têm a tendência a ver Gabriela como muito jovem, e quebrar esse estereótipo foi difícil. “Eu sabia que a dinâmica e responsabilidade como funcionária na área de programas seria diferente e me preparei para isso. Foram meses de muita leitura dos documentos que embasam o trabalho do Centro, sempre com excelente orientação das minhas supervisoras”, conta.
“Dominar outros idiomas é ferramenta básica do nosso trabalho, é fundamental, mas acredito que a capacidade de inovar, de me adaptar as diferentes situações e de saber lidar com todos os perfis de pessoas, com contextos, culturas e interesses diversos seja minha maior aliada do dia a dia”, avalia. “O Centro é muito focado em inovação, não podemos estacionar e nos tornar burocráticos. Isso é um grande desafio, mas é também o aspecto mais interessante do meu trabalho, porque é tudo muito dinâmico e a cada dia precisamos fazer algo diferente”.
Para Gabriela, a experiência mais interessante no Centro foi participar do Fórum Global de Nutrição Infantil de 2018, na Tunísia. “Eu já tinha trabalhado na organização de edições anteriores, mas estar no evento e ver tudo acontecendo foi um grande aprendizado que me fez me sentir muito útil”, conta.
“Vejo como meu propósito para a vida tentar sempre contribuir para melhorar a vida das pessoas, principalmente em situações vulneráveis, e vejo que a Organização das Nações Unidas realiza ações concretas para isso. Apesar de não ser perfeita, a ONU é hoje nossa melhor ferramenta para construir um mundo melhor, e é por isso que não podemos nos acomodar, precisamos inovar sempre”, avalia Gabriela. “Eu vejo o impacto direto do meu trabalho na alimentação escolar do Brasil e de muitos outros países e isso é muito gratificante”.