Em muitos países produtores de algodão, o principal desafio é encontrar mercados estáveis para os subprodutos do algodão e culturas alimentares consorciadas. Geralmente existe um mercado cada vez maior e seguro para a fibra de algodão. No entanto, a venda dos seus produtos (óleo de sementes e torta) e das culturas cultivadas em rotação com o algodão pode ser um desafio.

O projeto Além do Algodão é uma iniciativa conjunta do WFP Brasil – Centro de Excelência contra a Fome e da Agência Brasileira de Cooperação, com apoio do Instituto Brasileiro do Algodão. Seu objetivo é apoiar pequenos produtores de algodão e instituições públicas de países africanos a vincular subprodutos de algodão (óleo de semente, torta etc.) e culturas consorciadas, como milho, sorgo e feijão, a mercados seguros, incluindo programas de alimentação escolar.

O objetivo é incrementar a produção, a renda local e a segurança alimentar e nutricional dos agricultores familiares.

MOÇAMBIQUE

Em Moçambique, a produção do algodão é predominantemente familiar, com cerca de 220 mil famílias produtoras nas zonas rurais, beneficiando aproximadamente 1,2 milhão de pessoas diretamente. A comercialização do algodão em caroço (bruto) é a principal fonte de rendimento familiar. A produção concentra-se, principalmente, nas regiões norte e centro do país, com cerca de 180.000 hectares. O plantio é realizado, geralmente, entre os meses de outubro e dezembro e a colheita ocorre de abril a junho. A importância do algodão em Moçambique vai além do seu peso na balança comercial e na geração de empregos no campo: ao longo de sua cadeia produtiva, ele gera entre 15 e 20 mil postos de trabalho, entre sazonais e permanentes.

Em agosto de 2019, o projeto Além do Algodão promoveu o Workshop Participativo de Estruturação do Marco Lógico do Projeto-país na cidade de Maputo. Para subsidiar essas discussões, uma delegação brasileira com dois especialistas em agronomia e nutrição da Universidade Federal de Lavras (UFLA) participaram de uma missão técnica que incluiu visitas a escolas e agricultores familiares nas províncias de Tete e Manica, região de atuação do projeto. A equipe do projeto Além do Algodão preparou, então, a primeira versão do documento do projeto-país, a partir da sistematização das informações coletadas nas visitas de campo e durante o seminário participativo. Desde então, as instituições brasileiras e moçambicanas estão revisando o documento preparado e o projeto-país deve ser assinado em breve.

Parceiros

BENIN

O setor algodoeiro é a base da economia rural e do agronegócio no Benim, com contribuição estimada em 13% do PIB. Isso representa cerca de 70% do valor total das exportações e 35% das receitas fiscais (excluindo as alfandegárias). O setor algodoeiro é visto como ferramenta estratégica para combater a pobreza. A comercialização de sementes de algodão rende mais de 70 bilhões de CFA anualmente para 300.000 agricultores, gerando renda indireta para cerca de três milhões de pessoas. O algodão é cultivado em modo de sequeiro por quase um terço dos agricultores do Benim e ocupa cerca de 20% da área cultivada. As principais áreas de produção ficam no norte e no centro do país.

Em 2019, o Projeto Além do Algodão no Benim promoveu um Workshop Participativo de Estruturação do Marco Lógico do Projeto-país na cidade de Parakou. O principal intuito foi coletar informações e sugestões junto às entidades parceiras do Benim e do Brasil para complementar o diagnóstico inicial e subsidiar o processo de elaboração conjunta do projeto-país. Durante o workshop, discutiu-se a contribuição do projeto Além do Algodão para áreas do Plano Estratégico de Desenvolvimento do Setor Agrícola (PSDSA) beninense. O Ministério da Agricultura, Gado e Pesca do país acredita que este projeto pode impulsionar o setor e principalmente a vida dos pequenos produtores de algodão. Desde então, a equipe vem trabalhando na elaboração do documento de projeto-país.

Parceiros

TANZÂNIA

O algodão é uma das principais cash crops do país. Cerca de 40% da população nacional – mais de 18 milhões de pessoas – dependem da cadeia do algodão para sua subsistência diária. O cultivo é predominantemente realizado por pequenos agricultores e totalmente dependente da chuva. A produção anual de algodão é fortemente influenciada pelo padrão de poluição e pelo preço do produtor de algodão na temporada anterior. O algodão é cultivado na Tanzânia há mais de um século e está entre os produtos chave que podem ajudar a Tanzânia a tornar-se um país industrializado até 2025.

Em 2019, o país validou o diagnóstico produzido pelo Centro de Excelência, instituições públicas e entidades do setor algodoeiro na Tanzânia. O foco do projeto Além do Algodão no país é capacitar e equipar técnicos de instituições e pequenos agricultores de algodão para que eles também passem a produzir e comercializar alimentos, modelo que é conhecido como culturas consorciadas.

Dentre as prioridades apontadas durante esta visita técnica está a valorização de subprodutos do algodão, como o óleo, que é extraído do caroço. Na Tanzânia, já havia uma tradição de consumo de óleo de algodão, mas o produto acabou sendo substituído por outros óleos, como os de palma e girassol. Outra prioridade será promover o escoamento da produção dos alimentos consorciados para mercados locais. O escritório do WFP na Tanzânia realiza várias atividades de ajuda humanitária na região e fornecer alimentos oriundos das culturas consorciadas para os campos de refugiados é um potencial de mercado identificado durante o workshop.

Ao longo dos próximos meses, o Centro de Excelência irá identificar, junto à Agência Brasileira de Cooperação, uma instituição brasileira cooperante que trabalhe em conjunto com o governo da Tanzânia e com o WFP local para viabilizar o projeto no país. Ao mesmo tempo, a força-tarefa na Tanzânia, envolvendo todos os atores públicos e organizações do setor, vai se reunir, validar os resultados do workshop e preparar a nova visita de campo, marcada para 2020.

Parceiros

QUÊNIA

A cultura do algodão decaiu significativamente após o Quênia ter adotado programas de ajuste estrutural impostos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o que resultou em um regime quase totalmente aberto e liberalizado no setor e em um expressivo programa de privatizações. Consequentemente, observou-se uma queda vertiginosa na demanda doméstica industrial pela fibra, além de uma drástica redução dos recursos orçamentários disponíveis para a promoção da cultura e financiamento do sistema. Apesar disso, o setor foi identificado como um importante fator econômico futuro. Segundo a Autoridade Agrícola e Alimentar do país, o cultivo de algodão no Quênia pode apoiar até 200.000 agricultores, com potencial para beneficiar oito milhões de pessoas nas áreas mais secas do país.

Em 2019, a equipe do Projeto Além do Algodão visitou o país para compartilhar a estratégia do projeto com os possíveis parceiros e discutir inserção nos programas nacionais em implementação, tanto governamentais quanto do WFP local. Desde então, o WFP Brasil – Centro de Excelência contra a Fome tem conversado com o governo local sobre a melhor maneira de iniciar o projeto no país. Após discussões no XII Congresso Brasileiro do Algodão, o governo se comprometeu a apoiar a elaboração do Diagnóstico do Setor Algodoeiro no país.

Parceiros

Albaneide Peixinho
Coordenadora de Projetos
[email protected]

Joélcio Carvalho
Oficial de Projetos
[email protected]