Em muitos países produtores de algodão, o principal desafio é encontrar mercados estáveis para os subprodutos do algodão e culturas alimentares consorciadas. Geralmente existe um mercado cada vez maior e seguro para a fibra de algodão. No entanto, a venda dos seus produtos (óleo de sementes e torta) e das culturas cultivadas em rotação com o algodão pode ser um desafio.

O projeto Além do Algodão é uma iniciativa conjunta do WFP Brasil – Centro de Excelência contra a Fome e da Agência Brasileira de Cooperação, com apoio do Instituto Brasileiro do Algodão. Seu objetivo é apoiar pequenos produtores de algodão e instituições públicas de países africanos a vincular subprodutos de algodão (óleo de semente, torta etc.) e culturas consorciadas, como milho, sorgo e feijão, a mercados seguros, incluindo programas de alimentação escolar.

O objetivo é incrementar a produção, a renda local e a segurança alimentar e nutricional dos agricultores familiares.

MOÇAMBIQUE

O projeto em Moçambique tem como objetivo apoiar os pequenos produtores de algodão e instituições públicas na melhoria do acesso aos mercados para os subprodutos do algodão (como óleo e farelo) e as culturas alimentares associadas. O projeto promove a segurança alimentar e nutricional e geração de renda dos agricultores locais.

O projeto já realizou mais de 250 atividades de capacitação e ações para melhorar os sistemas produtivos dos pequenos agricultores, fortalecendo a capacidade de mais de 247 agricultores, com foco na produção consorciada do algodão e na promoção de sistemas alimentares mais resilientes e saudáveis.

A importância do algodão em Moçambique vai além do seu peso na balança comercial e na geração de empregos no campo: ao longo de sua cadeia produtiva, ele gera entre 15 e 20 mil postos de trabalho, entre sazonais e permanentes.

Em Moçambique, a produção do algodão é predominantemente familiar, com cerca de 220 mil famílias produtoras nas zonas rurais, beneficiando aproximadamente 1,2 milhão de pessoas diretamente. A comercialização do algodão em caroço (bruto) é a principal fonte de rendimento familiar.

A produção concentra-se, principalmente, nas regiões norte e centro do país, com cerca de 180.000 hectares. O plantio é realizado, geralmente, entre os meses de outubro e dezembro e a colheita ocorre de abril a junho.

Parceiros

BENIN

O projeto no Benim realizou treinamento de mais 1.794 agricultores e agricultoras nos temas de colheita, pós-colheita, gerenciamento de estoque de milho, feijão-caupi, arroz em casca e arroz moído. Além de fortalecer a capacidade dos agricultores locais na produção do algodão agroflorestal e agricultura sustentável.

O projeto incidiu, ainda, como apoiador na estratégia do escritório país de ampliar a compra local para alimentação escolar e possibilitou aumentar em 90% a compra local de milho branco entre 2022 e 2023, com perspectivas de diversificação da cesta de alimentos fornecidas pelo WFP e aumento das quantidades adquiridas localmente para os próximos anos.

O setor algodoeiro é visto como ferramenta estratégica para combater a pobreza e o setor algodoeiro é a base da economia rural e do agronegócio no Benim, com contribuição estimada em 13% do PIB. Isso representa cerca de 70% do valor total das exportações e 35% das receitas fiscais (excluindo as alfandegárias).

A comercialização de sementes de algodão rende mais de 70 bilhões de CFA anualmente para 300.000 agricultores, gerando renda indireta para cerca de três milhões de pessoas. O algodão é cultivado em modo de sequeiro por quase um terço dos agricultores do Benim e ocupa cerca de 20% da área cultivada. As principais áreas de produção ficam no norte e no centro do país.

Parceiros

O Projeto Além do Algodão na Tanzânia teve seu início em 2022 e foi encerrado em 2023, tendo beneficiado cerca de 11 mil agricultores produtores de algodão da região de Mwanza.

Durante sua execução, por meio de atividades multidisciplinares, o Projeto reforçou a capacidade de agricultoras, agricultores e técnicos a diversificarem a produção, com o plantio consorciado com milho, feijão e sorgo, para aumentar a renda familiar e a segurança alimentar local.

Nos distritos de Misungwi, Kwimba e Magu, foram realizadas as seguintes atividades para o fortalecimento da produção agrícola: treinamento de manejo de pragas e doenças, produção e aplicação de inseticidas naturais; oficinas sobre seleção e armazenamento de sementes; atividades de planejamento de plantio; e confecção de teares artesanais de baixo custo, agregando valor à fibra do algodão.

O projeto incluiu treinamentos também na área de Educação Alimentar e Nutricional sobre aproveitamento integral dos alimentos e controle social da desnutrição infantil e adulta.

Em 2024 foi lançada uma brochura com resultados e quatro cartilhas técnicas sobre os temas trabalhados, como a casa de sementes, cisternas de placas, monitoramento e controle alternativo de pragas e doenças.

O algodão é uma das principais colheitas comerciais do país. Mais de 18 milhões de pessoas (cerca de 40% da população nacional) dependem da cadeia do algodão para sua subsistência diária.

Parceiros

QUÊNIA

A cultura do algodão decaiu significativamente após o Quênia ter adotado programas de ajuste estrutural impostos pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), o que resultou em um regime quase totalmente aberto e liberalizado no setor e em um expressivo programa de privatizações. Consequentemente, observou-se uma queda vertiginosa na demanda doméstica industrial pela fibra, além de uma drástica redução dos recursos orçamentários disponíveis para a promoção da cultura e financiamento do sistema. Apesar disso, o setor foi identificado como um importante fator econômico futuro. Segundo a Autoridade Agrícola e Alimentar do país, o cultivo de algodão no Quênia pode apoiar até 200.000 agricultores, com potencial para beneficiar oito milhões de pessoas nas áreas mais secas do país.

Em 2019, a equipe do Projeto Além do Algodão visitou o país para compartilhar a estratégia do projeto com os possíveis parceiros e discutir inserção nos programas nacionais em implementação, tanto governamentais quanto do WFP local. Desde então, o WFP Brasil – Centro de Excelência contra a Fome tem conversado com o governo local sobre a melhor maneira de iniciar o projeto no país. Após discussões no XII Congresso Brasileiro do Algodão, o governo se comprometeu a apoiar a elaboração do Diagnóstico do Setor Algodoeiro no país.

Parceiros

Albaneide Peixinho
Coordenadora de Projetos
[email protected]