No dia 18 de novembro, o Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos (WFP) no Brasil e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) realizaram uma reunião de avaliação da missão ao norte do Benim no âmbito do Projeto Além do Algodão, ocorrida entre 13 e 17 de outubro com apoio do escritório de país do WFP. A iniciativa buscou promover atividades de educação alimentar e nutricional em escolas públicas e desenvolver oficinas de agricultura sintrópica voltadas para agricultores familiares.
Educação alimentar
As ações incluíram oficinas com crianças de 11 a 14 anos, que participaram de dinâmicas como o World Café, voltado para identificar hábitos alimentares ao longo das gerações. Os resultados mostraram que a alimentação tradicional, baseada em produtos locais, era mais saudável do que a atual, marcada pelo consumo de ultraprocessados como biscoitos e balas. Também foram realizadas atividades para classificar alimentos entre in natura, processados e ultraprocessados, destacando a perda de nutrientes em cada etapa de processamento.
Um dos destaques foi o teste do jogo educativo “Amuse-bouche”, desenvolvido pelo Centro de Excelência para estimular o aprendizado sobre nutrição e sustentabilidade. O momento de interação contou com a participação ativa das crianças, mas também destacou algumas sugestões de adaptações para a versão final, como o vocabulário mais próximo ao contexto beninense.
Por fim, as atividades de nutrição foram finalizadas com o jogo da “amarelinha”, onde as crianças brincavam e aprendiam as informações sobre nutrição, boas práticas agrícolas e sustentabilidade através das casas, numeradas de 1 a 15, que continham as informações.
Agricultura sintrópica
No campo, agricultores familiares participaram de oficinas sobre princípios da agricultura sintrópica, como consórcio de culturas, conservação do solo e uso racional da água. Técnicas locais foram valorizadas e integradas às práticas apresentadas, como o plantio de árvores em áreas agrícolas para melhorar a fertilidade. As atividades foram coordenadas por Mario Soares, professor da Universidade Federal do Oeste da Bahia.
As escolas também receberam apoio para a criação de hortas, com envolvimento de comitês escolares formados por mães, cozinheiras e pais de alunos. Foram discutidas tecnologias simples de conservação de alimentos, como refrigeradores de barro e areia, já utilizados em outras experiências de cooperação Sul-Sul.
Resultados e desafios
A missão destacou avanços importantes capacitações anteriores de agricultores foram disseminadas e houve compartilhamento do conhecimento para melhoria das mudas de banana e outras culturas.
Foi destacado também que o Projeto contribuiu amplamente para o desenvolvimento de uma prática de compras locais dos pequenos agricultores, que passaram a ter mais acesso aos mercados. Em 2021, o Benim registrava apenas 300 toneladas de compras de agricultores familiares para programas de alimentação escolar; em 2024, esse número saltou para 5.000 toneladas, evidenciando o fortalecimento da agricultura local.
Entre os desafios apontados estão a necessidade de maior tempo para capacitações realizadas durante uma mesma missão, a relevância da presença de intérpretes durante as atividades e a importância de garantir continuidade às ações iniciadas. Os participantes também ressaltaram que visitas curtas e apenas teóricas não são suficientes, sendo essencial ampliar o componente prático e o acompanhamento técnico.
Próximos passos
O balanço da missão indicou como próximos passos a necessidade de ampliar a integração com universidades e cursos técnicos, de modo a incluir conteúdos de agricultura sustentável na formação acadêmica. Também foi destacada a importância de fortalecer a comunicação e a documentação das atividades, com registros audiovisuais que possam apoiar a disseminação dos resultados.
Além disso, pretende-se consolidar estratégias de difusão de práticas agrícolas e nutricionais por meio de oficinas virtuais e do intercâmbio de técnicos extensionistas, garantindo ao mesmo tempo maior envolvimento das autoridades locais e da Agência Nacional de Alimentação e Nutrição (ANAN) do Benim para assegurar a continuidade das ações.
Cooperação Sul-Sul
O projeto Além do Algodão é uma iniciativa conjunta do Centro de Excelência e da ABC, com apoio do Instituto Brasileiro do Algodão (IBA), e foi realizado em três países: no Benim, em fase de conclusão, na Tanzânia e em Moçambique, onde já foi concluído.
O Projeto, busca apoiar pequenos produtores de algodão e instituições públicas desses países a vincular subprodutos de algodão (por exemplo, óleo de semente) e culturas consorciadas, como milho, sorgo e feijão, a mercados seguros, incluindo programas de alimentação escolar.