O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP) lançou hoje a quarta edição do relatório O Estado da Alimentação Escolar no Mundo 2024, que mostra avanços importantes nos programas de alimentação escolar em todo o mundo. O levantamento aponta que 466 milhões de crianças recebem diariamente refeições nas escolas, um aumento de 80 milhões em apenas quatro anos. Trata-se da avaliação global mais abrangente sobre o tema, considerada a referência oficial da ONU no setor.
Segundo o documento, os programas cresceram em todas as regiões e faixas de renda, mas os maiores avanços ocorreram nos países de baixa renda, que conseguiram mais que dobrar sua cobertura em apenas dois anos. No continente africano, 20 milhões de novos estudantes passaram a ser atendidos nesse período, com destaques para Ruanda, Etiópia, Madagascar e Quênia.
O relatório também mostra que o investimento global em alimentação escolar mais que dobrou desde 2020, passando de US$ 41 bilhões para US$ 84 bilhões. Desse montante, 99% são recursos próprios dos governos nacionais, o que revela um forte compromisso político com a nutrição e o futuro das crianças. Apenas US$ 445 milhões vêm da cooperação internacional, valor considerado modesto diante da escala necessária.
Segundo a publicação, os programas de alimentação escolar são um investimento rentável e de alto impacto: por cada dólar investido, geram-se entre 7 e 35 dólares em benefícios econômicos em setores como educação, saúde, proteção social e agricultura.
Apesar dos avanços, o WFP alerta que persistem fortes desigualdades no acesso. Enquanto nos países ricos a cobertura chega a 80% das crianças em idade escolar primária, nos países de baixa renda apenas 27% delas recebem refeições nas escolas. Isso significa que milhões de meninos e meninas ainda ficam sem essa rede de proteção considerada vital para a educação, a saúde e a segurança alimentar.
A publicação também ressalta que a alimentação escolar deixou de ser vis
ta como simples assistência social e passou a ser tratada como política estratégica de desenvolvimento nacional. As refeições nas escolas contribuem não só para combater a fome e melhorar a nutrição, mas também para aumentar a frequência escolar, reduzir a evasão, criar empregos e fortalecer economias locais, especialmente ao integrar agricultores familiares e cadeias curtas de abastecimento.
Um exemplo emblemático é o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) do Brasil, citado no relatório como modelo internacional. O PNAE oferece refeições diárias a quase 40 milhões de alunos da rede pública e destina, por lei, pelo menos 30% de seus recursos para a compra de alimentos da agricultura familiar. Essa estratégia garante renda para milhares de produtores locais e promove dietas mais diversificadas e sustentáveis.
O relatório também enfatiza o papel da Coalizão para a Alimentação Escolar (School Meals Coalition), criada em 2021 e hoje formada por 108 países, mais de 140 organizações parceiras e seis organismos regionais. A Coalizão tem sido responsável por grande parte da expansão recente, ao transformar compromissos políticos em ações concretas e ao apoiar governos na criação de políticas e marcos legais para os programas.
Há também evidências de que as refeições escolares são uma das formas mais eficazes de melhorar a aprendizagem da matemática e da alfabetização. Estudos citados no documento indicam que, em t
ermos de custo-benefício, a alimentação escolar pode superar outras intervenções educacionais tradicionais, como a distribuição de livros ou a capacitação de professores, por combinar dois efeitos: atrair crianças para a escola e favorecer a concentração e o desempenho em sala de aula.
Por fim, o WFP lembra que o mundo vive um momento de retração da ajuda humanitária e de desenvolvimento, o que coloca em risco a expansão dos programas nos países mais vulneráveis. Ainda assim, o relatório defende que a alimentação escolar é uma das políticas públicas mais resilientes e transformadoras da atualidade: um investimento que oferece benefícios múltiplos e duradouros, ajudando a preparar uma geração mais saudável, educada e capaz de enfrentar os desafios globais.
Leia a íntegra do relatório O Estado da Alimentação Escolar no Mundo (disponível em inglês, francês, espanhol e português)
