Quais os impactos decorrentes da pandemia do novo coronavírus em relação às metas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, os ODS? Esta foi a pergunta que guiou um debate sobre os impactos da pandemia da COVID-19 no alcance da Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, que aconteceu na terça-feira, 25 de maio. A mesa teve participação do Diretor do Centro de Excelência contra a Fome do WFP, Daniel Balaban, além de João Marcelo Borges, Pesquisador do Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais da FGV, Rodrigo Castro, Diretor da Solidaridad Brasil, e Gláucia Barros, Diretora Programática do Festival ODS.
Em sua fala, Daniel Balaban alertou para os altos números de pessoas em insegurança alimentar no mundo, que chegam a 690 milhões. No Brasil, segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no contexto da pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), 55,2% dos brasileiros convivem com algum grau de insegurança alimentar, o que equivale a 116,8 milhões de pessoas. Dessas, 19,1 milhões (9% da população) sofrem de insegurança alimentar grave ou fome. “A fome é reflexo do número de pessoas abaixo da linha da pobreza, então, isso significa que mais pessoas no planeta estão abaixo dessa linha e não têm condições de adquirir alimentos para si e para suas famílias. Ao mesmo tempo, o planeta voltou a concentrar renda, vivemos em um planeta cada vez mais desigual”, disse Daniel Balaban.
Ele também lembrou que a pandemia não trouxe a fome de volta, mas acelerou o processo. O aumento da fome é um processo que está ligado, também, ao aumento de preços, congelamento de salários e aumento de inflação, além de menor incentivo a políticas públicas, como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa de Cisternas. Para Daniel Balaban, a mobilização social para doação e entrega de alimentos é importante para este momento, mas é também preciso pensar em soluções mais estratégicas. “Temos que pensar em voltar a investir em políticas sociais e políticas públicas para atacar as causas dessa situação e colocar o país de volta no trilho do desenvolvimento sustentável e combate à pobreza”, concluiu.
João Marcelo Borges, Pesquisador do Centro de Desenvolvimento da Gestão Pública e Políticas Educacionais da FGV, falou sobre os impactos da pandemia no alcance dos objetivos ligados à educação, especialmente o ODS 4. Segundo ele, o mundo vinha observando uma melhoria em alguns indicadores, como um aumento no número de crianças matriculadas. A pandemia, entretanto, tem afetado alguns grupos específicos, como as crianças menores e os jovens que estão concluindo o ensino médio ou no início da graduação. “A pandemia tem afetado a educação e os efeitos serão sentidos por muitas décadas ainda, com influência na saúde, segurança pública, produtividade e no desenvolvimento dos países”, disse.
Já Rodrigo Castro, Diretor da Solidaridad Brasil, um organização sem fins lucrativos que trabalha globalmente para prover sustentabilidade e inclusão econômica do pequeno agricultor, falou do elemento de promoção da agricultura sustentável, que é parte do ODS 2. “Precisamos seguir produzindo alimentos para uma população que precisa se alimentar melhor, melhorando acesso e qualidade da alimentação”, disse. “Isso envolve também trabalharmos os impactos da produção do alimento no meio ambiente”, completou.
A 2ª edição do Festival ODS, realizado pela Agenda Pública e Estratégia ODS, aconteceu nos dias 25 e 26 de maio. O evento contou com a presença de especialistas, representantes da sociedade civil, governos, empresas e organismos internacionais em debates virtuais sobre diversos temas ligados à Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, entre eles o combate à fome e o estímulo à agricultura sustentável. Saiba mais aqui.