Albaneide Peixinho conheceu a fome e as dificuldade do sertão de perto. “Às vezes, não chovia durante dois anos seguidos. As pessoas tinham tanques para acúmulo de água ou iam buscar bem longe”, lembra. Nascida em Serrinha, no interior da Bahia, Alba, como é chamada pelos colegas, estudou a vida toda em escolas públicas. Quando ela se mudou para Salvador, os irmãos já eram estudantes universitários e dois eram da área de saúde, o que impulsionou seu interesse por nutrição, a carreira que escolheu seguir.
As motivações eram muitas. De um lado, o interesse por saúde pública. De outro, a vontade de trabalhar diretamente com educação e mudanças comportamentais. Após terminar a graduação na Universidade Federal da Bahia, no início da década de 1980, veio para Brasília atuar como nutricionista em hospitais, mas já com a ideia de trabalhar com políticas públicas. “Me ofereci para trabalhar nas unidades básicas de saúde, como voluntária, e já pensava no conjunto da política pública nacional de nutrição, que era um problema grande no Brasil na época. Era um aprendizado todos os dias”.
Alba também começou a se envolver com a reforma sanitária e participou de um grupo de trabalho de nutricionistas que atuou na elaboração de um plano de segurança alimentar e nutricional para o país. Foi aí que ela entrou no mundo da alimentação escolar pela primeira vez. Trabalhou junto ao governo do Distrito Federal na elaboração de projetos de lei e depois foi para o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), onde coordenou o Programam de Alimentação Escolar.
Chegada ao Centro de Excelência do WFP
“Desde aquele momento no FNDE, eu achava importante trabalhar a ideia de que a alimentação escolar era parte do projeto pedagógico, de nutrição e educação alimentar”, diz Alba. Após mais de dez anos nessa função, Alba juntou-se ao Centro de Excelência contra a Fome do WFP em 2015 como Coordenadora de Projetos. Sua primeira missão como membro da equipe foi coordenar um projeto de três anos em parceria com a Fundação Bill & Melinda Gates na área de nutrição, entre 2015 e 2018.
Enquanto tocava esse projeto, já estava em concepção o projeto Além do Algodão, que foi lançado em 2017. “Minha mãe usava óleo de algodão quando eu era criança e daí veio a inspiração para o projeto”, conta Alba. A iniciativa é uma parceria do Centro de Excelência com a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e tem apoio do Instituto Brasileiro do Algodão. O objetivo é apoiar pequenos produtores de algodão e instituições públicas de países africanos a vincular subprodutos de algodão (como o óleo) e culturas consorciadas (milho, sorgo e feijão) a mercados seguros, incluindo programas locais de alimentação escolar.
Nutrição
A equipe coordenada por Alba também desenvolveu outro projeto recentemente, desta vez em parceria com a ABC e o Ministério da Saúde, com foco na cooperação internacional para o combate à dupla carga da má nutrição (coexistência de deficiências de micronutrientes e desnutrição, com sobrepeso e obesidade). Com a chegada da pandemia, muitas atividades presenciais foram canceladas, mas a equipe segue trabalhando remotamente.
Para Alba, educação alimentar tem um peso importante neste momento de pandemia. “Há pessoas com má nutrição por conta da fome e também má nutrição por conta da obesidade. A grande maioria das cestas emergenciais distribuídas é composta de processados e ultra processados, pois é o que se pode fazer em muitos casos”, explica. “O nosso trabalho no momento também é de capacitação, criação de consciência de que é importante ter uma dieta equilibrada”, completa.