Ela foi a primeira funcionária contratada pelo Programa Mundial de Alimentos no Brasil, quando foi criado o Centro de Excelência contra a Fome, e conhece em detalhes o nosso escritório. Ajudou a superar todos os desafios que enfrentamos ao longo de oito anos e participou da construção do processo de cooperação com os mais de 30 países que trabalham em parceria com o Centro de Excelência. Sharon Freitas detém nossa memória institucional e é unanimemente a pessoa mais divertida da nossa equipe.
Percurso
Sharon estudou comunicação com a esperança de trabalhar num canal de televisão dedicado a programas sobre viagens. Ela não se lembrava na época em que escolheu o curso universitário que, desde os quatro anos de idade, o que ela queria mesmo era trabalhar na Organização das Nações Unidas. “Quando eu era pequena, assisti a um filme infantil em que os personagens eram um ratinho e uma ratinha que trabalhavam num escritório no subsolo da ONU. Quando terminei de ver o filme disse para minha mãe: ‘quando eu crescer, vou ser igual a ela e vou trabalhar na ONU’”.
Até chegar num escritório da ONU de verdade, Sharon deu um bocado de voltas. Quando se formou, trabalhou em agência de publicidade, administrou uma empresa na área de educação, foi contratada para abrir e acabou tornando-se sócia de uma escola de inglês. Em 2001, decidiu voltar a estudar e fez mestrado em relações internacionais na Bélgica. Durante o curso, ela conheceu Gustavo e voltou da Bélgica com um diploma e um marido. Passou cinco anos dando aulas em uma universidade particular em São Paulo, até decidir mudar de vida de novo.
O casal veio para Brasília para tentar passar em um concurso público. Logo que começou a estudar, Sharon chegou à conclusão de que aquele não era o melhor caminho para ela. “Resolvi que queria um emprego e logo comecei a trabalhar na área internacional do gabinete do presidente do Banco Central”. O espírito inquieto fez com que Sharon continuasse buscando novas oportunidades, desta vez, na ONU. “Eu acreditava que esse seria um trabalho internacional que me permitiria ajudar as pessoas de verdade”, conta.
Sharon fez uma entrevista para trabalhar em outra agência da ONU no Brasil e foi chamada para a vaga. Quando foi avisar seu chefe, o presidente do Banco Central na época pediu que ela ficasse. “Não pude dizer não, porque ele contava comigo”. Depois de alguns meses, no entanto, o presidente deixou o cargo e Sharon se sentiu à vontade para pedir demissão. “Meu último dia de trabalho no Banco foi numa sexta-feira e, na segunda-feira seguinte, recebi uma ligação me dizendo que o Programa Mundial de Alimentos abriria um escritório no Brasil e estava procurando uma pessoa com meu perfil”.
No Centro
Nos oito anos de trabalho no Centro, Sharon já fez de tudo. De tudo mesmo: “já lavei os banheiros, já peguei uma vassoura emprestada com uma vizinha para varrer o escritório, já tive que trazer água de casa, tive até que carregar dinheiro escondido na roupa para não ser assaltada, porque ainda não tínhamos pagamento eletrônico e nem mesmo um cofre”. Nesse período, a equipe do Centro cresceu e Sharon ajudou a estruturar todas as áreas do escritório. Passou por cinco supervisores diferentes até chegar à função de oficial de programas que ocupa atualmente.
Não por muito tempo. O Centro de Excelência está passando por uma transição e Sharon vai assumir a partir de maio um novo desafio: substituir Christiani Buani como chefe da unidade de programas. Christiani, depois de quase oito anos no Centro de Excelência no Brasil, vai agora ajudar a estruturar o novo Centro de Excelência do PMA na Costa do Marfim (leia o perfil da Chris: https://centrodeexcelencia.org.br/en/world-humanitarian-day-brazil-world/). “O que eu espero nessa nova função é ampliar nossa atuação por meio do apoio remoto aos países. Minha expectativa é que seremos capazes de alcançar mais países e continuar provendo um serviço de qualidade”, conta Sharon.
“A ONU talvez seja a organização com maior entrada em todos os países do mundo, especialmente o PMA. Nós chegamos aonde ninguém chega. Levamos esperança para as pessoas, além de comida. Nossa presença é muitas vezes a diferença entre a vida e a morte de alguém”, avalia Sharon. “Um dos momentos de maior emoção do meu trabalho no Centro foi quando recebemos uma delegação do Togo e, após uma apresentação sobre como a alimentação escolar e a agricultura familiar podem trabalhar juntas pelo desenvolvimento de um país, um dos membros da delegação me disse: ‘é isso que vai tirar meu país da miséria’. Depois de ouvir isso, vejo diariamente que meu trabalho faz sentido”.