O Brasil marcou presença no maior evento mundial sobre nutrição infantil, que aconteceu entre 9 e 12 de dezembro em Osaka, no Japão. O 24º Fórum Global de Nutrição Infantil (GCNF, na sigla em inglês) contou com a participação de equipes do Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos (WFP) no Brasil, a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).
Fórum é uma conferência bienal que apoia países no desenvolvimento e implementação de programas sustentáveis de alimentação escolar. Na edição deste ano, o evento reuniu mais de 400 participantes de 84 países, incluindo oficiais de governo e instituições multilaterais, ONGs e o setor privado.
Em 2024, o tema do fórum foi “Programas de Alimentação Escolar na Era das Transformação dos Sistemas Alimentares”, tendo como uma das propostas de discussão a alimentação escolar sob a ótica das mudanças climáticas. Em sessões plenárias e workshops, os países trocaram suas experiências e discutiram soluções climaticamente inteligentes, levando em conta também o viés de gênero e com foco na qualidade nutricional da alimentação escolar.
Brasil
O Brasil foi tema de grande destaque ao longo de todo o Fórum. Na sessão “Alimentação escolar na agenda global”, o Coordenador-Geral para Segurança Alimentar e Nutrição do Ministério das Relações Exteriores, Saulo Ceolin, apresentou para os participantes a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, iniciativa do Brasil proposta durante a presidência do país no G20, que foi lançada no último mês.
Ceolin explicou como os países, organizações internacionais, bancos e outras instituições podem entrar para a Aliança, que atualmente conta com mais de 140 membros. Ao detalhar como funciona a cesta de políticas, conjunto de aproximadamente 50 políticas públicas testadas e aprovadas, construído coletivamente entre os membros, Ceolin apontou que a política de alimentação escolar baseada em compras locais é uma das mais importantes.
“Dentro desse conjunto de políticas, a alimentação escolar é destaque durante todas as negociações da Aliança e nos seus documentos de fundação. Com base em pesquisa sobre o cenário internacional para cooperação e financiamento global para desenvolvimento, é possível afirmar que a melhor forma de investir o dinheiro para se alcançar resultados rápidos para fome e pobreza é na alimentação escolar ligada à produção local.”
Segundo Ceolin, a Alimentação Escolar sempre esteve entre as políticas públicas de melhor resultado. “No Brasil, sabemos que a alimentação escolar pode de fato mudar cenários e transformar a realidade das pessoas e tem impacto não somente na luta contra a fome e a pobreza e na luta por uma melhoria nutricional, mas também na educação, saúde e, quando incluímos compras locais, desenvolvimento econômico, social e na agricultura”, afirmou.
O Brasil também compartilhou suas experiências no painel “Financiamento Doméstico – O que estamos aprendendo”, com participação de Fernanda Pacobahyba, presidente do FNDE. Pacobahyba discursou sobre como é financiado o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e exaltou o trabalho das nutricionistas e merenderias engajadas no Programa.
A presidente também comentou a relevância da alimentação escolar dentro da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza. “Alimentação escolar faz parte da cesta de políticas exitosas sociais e acreditamos que ter fome no mundo ainda é uma decisão política. Alimentação Escolar é um grande viés que pode ser utilizado por todas as nações”, afirmou.
Workshop
Um ponto alto da participação do Brasil no Fórum foi o workshop conduzido pela equipe de Programas do Centro de Excelência. Intitulado “Integrando estratégias climaticamente inteligentes para sistemas alimentares nutritivos e sustentáveis”, o workshop contou com ao menos 100 participantes.
Na primeira parte, representantes do governo brasileiro, do Camboja e do Quênia apresentaram os programas de alimentação escolar em seus respectivos países. Cada representante trouxe para o debate desafios enfrentados na implementação da alimentação escolar baseada na agricultura familiar e estratégias adotadas para superar essas questões.
A alimentação escolar brasileira foi apresentada por Karine dos Santos, Coordenadora Geral do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), que deu destaque para os desafios relacionados às compras locais em comunidades tradicionais indígenas e quilombolas.
Em seguida, os participantes foram divididos em grupos que contemplam diferentes áreas de conhecimento (educação, agricultura, saúde e outros), de modo a incentivar a troca de perspectivas e cenários diversos. Cada grupo recebeu um caso hiptético e precisava desenhar soluções para as necessidades e contextos únicos de cada cenário, tendo como ponto de partida mudanças climáticas.
De acordo com Vinicius Limongi, Oficial de Programas do Centro de Excelência, foi uma oportunidade muito rica de troca entre os países. “Pessoas de diferentes setores e partes do mundo puderam trazer um pouco da sua expêriencia para propor soluções, em uma espécie de simulação que fizemos.”
Visita de Campo
A atividade final do fórum consistiu em visitar uma escola japonesa, para ver na prática como é aplicado o Shokuiku, modelo de Educação Alimentar e o Nutricional japonês, que tem como foco a participação dos alunos em todo o processo da alimentação escolar, considerando os aspectos nutricionais da comida, sustentabilidade, tradição e a socialização infantil.
Nesse modelo, as crianças são encorajadas a participarem da colheita dos alimentos, do processo de servir o almoço umas às outras e de compartilharem e falarem sobre suas lancheiras, para que possam experimentar comidas diferentes das suas.
Segundo Ana Clara Cathalat, Assistente de Programas do Centro de Excelência, o Brasil pode aprender muito com o modelo. “No Japão, a busca por hábitos alimentares saudáveis é cultural, começa já na educação infantil. E essa educação alimentar e nutricional reflete na saúde ao longo da vida dos japoneses.”
Bilaterais
O GCNF é também um importante espaço para que os participantes de todos os setores se reúnam e compartilhem informações, demandas e estabeleçam novas parcerias.
Ao longo do evento, o Centro de Excelência recebeu inúmeros pedidos de países e instituições para debater novas possibilidades de trabalho em conjunto e analisar o andamento de demandas já existentes. Foi o caso do Malawi e da República do Congo, ambos trabalhando com o Brasil atualmente.
Vários países expressaram interesse em trabalhar com o Centro de Excelência. Nesse sentido, o diretor Daniel Balaban e a equipe de Programas conversaram com o representantes do Laos, do Tajiquistão, da República Democrática do Congo e de Côte d’Ivoire.
Estes países buscam expandir seus programas de alimentação escolar e estão interessados em apoio técnico, na mobilização de recursos e parcerias. A equipe do Centro de Excelência reuniu-se também com representantes da Jordânia, do Quênia, de Guiné Bissau e a da organização Food For Education, para citar algums.
Encerramento
Apoiador de longa data do GCNF, Daniel Balaban foi um dos responsáveis por encerrar o evento, e aproveitou o momento para retomar o histórico de trabalho do Centro de Excelência com o GCNF, parceiros na organização do Fórum até 2019.
“É muito interessante acompanhar o desenvolvimento dos países. Hoje, todos os participantes possuem programas de alimentação escolar, fruto também de aprendizados e experiências trocadas no GCNF ao longo dos anos. É gratificante rever as pessoas e perceber que o trabalho executado já começa a mostrar resultados”, afirmou.
Outro ponto de destaque no seu discurso de encerramento foi o papel que o Brasil tem assumido na liderança da agenda global de desenvolvimento, encabeçando iniciativas como a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza e a Coalizão para a Alimentação Escolar.