Em ano de COP 30, o tema da mudança climática estará no centro das atenções. Uma das questões chave que será debatida é a relação da mudança do clima com a produção, a distribuição e o consumo dos alimentos, os chamados sistemas alimentares. A COP 30 é a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima e acontecerá em Belém (PA), no mês de novembro de 2025.
“Há uma inter-relação entre este trilho que vai da produção até o consumo de alimentos, os sistemas alimentares, e a mudança climática, um impactando o outro”, afirma Eliene Sousa, nutricionista e integrante da equipe de Projetos do Centro de Excelência contra a Fome do WFP no Brasil.
Ela explica que os sistemas alimentares incluem ainda questões como políticas agrícolas, práticas tradicionais e culturais, aspectos econômicos e a infraestrutura necessária para garantir que os alimentos cheguem às populações de maneira adequada e segura. Além disso, tem conexão direta com questões de saúde pública, segurança alimentar e justiça social. “Ou seja, engloba desde a questão do direito ao acesso à terra, e vai além do consumo do alimento, chegando à gestão de resíduos das embalagens e dos próprios produtos que consumimos.”
A COP 28, realizada nos Emirados Árabes Unidos em 2023, foi o evento que ressaltou a vinculação do tema das mudanças climáticas com os sistemas alimentares. “Sabemos que muitos países têm degradado a terra, devastado floresta para produção de alimentos e pecuária, degradado rios por conta de escoamento de esgoto e de descarte de dejetos que chegam aos oceanos. Então há uma simbiose entre os sistemas alimentares como um todo e a mudança climática, um impactando o outro”, destaca Eliene.
Para ela, três são as questões a observar. Em primeiro lugar, a produção do alimento de forma extensiva que degrada, tirando o agricultor familiar e os povos tradicionais que fazem o uso consciente da terra. Em segundo, os modelos de produção que usam cada vez mais agrotóxico que contamina rios, oceanos e a própria terra. E em terceiro, a questão do consumo, que inclui os ultraprocessados. “Parece clichê, mas precisamos de fato desembalar menos e descascar mais, porque o ultraprocessado é um não-alimento”, alerta.