Em janeiro de 2023, as cenas de desnutrição grave entre parte da população Yanomami, no norte do país, chamaram a atenção do Brasil e do mundo. A falta de acesso a alimentos e de recursos naturais no caso dos Yanomami tiveram consequências graves, como complicações do estado nutricional de crianças e adolescentes (e, consequentemente, a debilitação dos seus sistemas imunológicos, tornando os organismos mais suscetíveis a doenças); barganha de refeições em troca da exploração sexual de meninas indígenas; poluição das águas para cozinhar e beber e redução da biodiversidade devido ao mercúrio utilizado no garimpo.
Os impactos multifatoriais da fome, porém, não se limitam apenas a este grupo. A crise emergencial dos Yanomami expôs a coexistência de diferentes determinantes sociais que contribuem para a situação de insegurança alimentar também em outros segmentos populacionais.
De acordo com o estudo “As múltiplas dimensões da pobreza na infância e na adolescência no Brasil”, lançado em 2018 pela UNICEF e baseado em dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), entre 2009 e 2018 houve redução no acesso à alimentação de brasileiros entre 0 e 17 anos de idade. Porém, ao estratificar por raça/cor, os resultados mostram que a população negra e a indígena apresentaram maiores percentuais de privação no acesso ao alimento em comparação a crianças e adolescentes brancos e amarelos. A pesquisa também encontrou diferenças raciais ao comparar renda, educação, condições de moradia e privação de acesso à água, aspectos relevantes para garantir a segurança alimentar e nutricional (SAN). De acordo com a pesquisa, os piores percentuais estão concentrados nas regiões Norte e Nordeste.
O contexto de insegurança alimentar pode ocasionar a formação da múltipla carga da má nutrição, ou seja, carência nutricional, desnutrição grave e excesso de peso e obesidade, especialmente entre grupos mais vulneráveis.
O caso dos Yanomamis realça o debate das diferentes dimensões sociais a que a fome pode estar associada e o seu impacto entre grupos em vulnerabilidade no Brasil. Para garantir a segurança alimentar dessas comunidades, é fundamental a adoção de políticas de alimentação e nutrição que expandam os diagnósticos de estado nutricional e melhorias do consumo alimentar nos territórios.
Atuação do Centro de Excelência
O Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos (WFP) no Brasil, por meio do projeto Nutrir o Futuro, atua para o fortalecimento de capacidades e promove a troca de experiências com países parceiros, visando apoiar processos de fortalecimento das instituições públicas nacionais e dos setores de nutrição e saúde nos países cooperantes. O projeto resulta na elaboração de materiais de apoio, como os policy briefs sobre obesidade infantil e “Recomendações para o aumento de consumo de frutas, legumes e verduras”, disponíveis aqui. O projeto Nutrir o Futuro é fruto da parceria entre o WFP, os Ministérios da Saúde do Brasil, Colômbia e Peru e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC).