A falta de alimento é um dos fatores que gera ansiedade e angústia, afetando a saúde mental de muitas pessoas. O Janeiro Branco, mês dedicado à atenção à saúde mental, foi instituído por lei no Brasil em 2023.
Mas como a insegurança alimentar é medida no Brasil? O nutricionista e sanitarista, assistente técnico da área de Projetos do Centro de Excelência contra a Fome do WFP no Brasil, Osiyallê Rodrigues, explica.
O Brasil possui a escala brasileira de insegurança alimentar. Ela é formada por algumas perguntas que o(a) chefe de família responde para descrever seu acesso ao alimento. São perguntas que avaliam se a pessoa tem preocupação ou não de comer o alimento em algum período, e se deixou de se alimentar para alimentar uma outra pessoa da família, por exemplo. As respostas pontuam, e uma escala identifica se existe insegurança alimentar leve, moderada ou grave, sendo este último considerado o estado de fome.
A insegurança alimentar no Brasil atinge principalmente a população negra, sobretudo mulheres negras solteiras que precisam sustentar os filhos; e populações tradicionais, como indígenas, quilombolas e ribeirinhas, que muitas vezes perdem o direito à terra para plantio e produção de alimentos devido a algum tipo de problema ambiental, ou ainda se localiza em região de conflito.
Mas, segundo Osiyallê, a insegurança alimentar pode afetar a saúde mental de qualquer pessoa em vulnerabilidade social. “Se pensarmos em chefes de família, pessoas adultas, sem um alimento para comer, isso cria uma preocupação constante. A insegurança alimentar é um problema de origem multisetorial. Para alimentar uma família, é preciso ter trabalho ou uma fonte de renda. A impossibilidade de alimentar os filhos cria ansiedade e pode gerar depressão, associada com outros fatores”, afirmou.
Ter que fazer perguntas como “Com o dinheiro que tenho, que alimento posso oferecer para minha família?”, já é um indicativo de insegurança alimentar. E os alimentos mais baratos são os ultra-processados. Estudos mostram que o consumo de ultra-processados (em especial bebidas açucaradas e adoçantes artificiais) estão associados com o risco de desenvolver depressão. Outro fator que pode afetar a saúde mental é o uso excessivo de celulares, até mesmo na hora das refeições. “Isso afeta a comensalidade, que é o momento de socialização ao fazer as refeições em família ou com amigos. Entretida pela tela do celular, a pessoa sequer nota o que está comendo ou quanto está comendo, o que pode levar a outro problema, que é o sobrepeso, a obesidade.”
Osiyallê acredita que muitas pessoas não dão a devida importância à alimentação, sem se atentar que ela é sinônimo de bem-estar, saúde, longevidade. Para ele, uma resposta à insegurança alimentar para a melhora da saúde mental seria, por exemplo, ampliar o acesso ao alimento por meio de mais ofertas de feiras agroecológicas, com alimentos nutritivos de produtores locais e com preços acessíveis, bem como o fortalecimento de programas de transferência de renda associados com atividades de educação alimentar e nutricional para grupos em vulnerabilidade social. E outras recomendações seriam resgatar o prazer de preparar sua própria refeição, a comensalidade, e deixar o celular de lado buscando compartilhar suas refeições com outras pessoas, porque a interação humana pode ser um fator fundamental para uma boa saúde mental.