Uma em cada duas crianças em idade escolar, ou 388 milhões de crianças no mundo, se alimentaram de uma refeição nutritiva na escola todos os dias até a pandemia Covid-19 fechar as salas de aula e dar fim a uma década de crescimento dos programas de alimentação escolar, segundo o novo relatório do Programa Mundial de Alimentos (WFP) da ONU, que pede por uma ação global para recuperar o nível pré-pandêmico de cobertura desses programas. O relatório State of School Feeding Worldwide (Estado da Alimentação Escolar no Mundo) afirma que, em abril de 2020, 199 países fecharam suas escolas e 370 milhões de crianças foram repentinamente privadas do que, para muitas, era a única refeição nutritiva do dia.
Para governos, os lockdowns evidenciaram o papel crítico que a alimentação escolar desempenha no apoio a crianças mais vulneráveis e na proteção de seus futuros. O Brasil opera um dos maiores programas de alimentação escolar do mundo, fornecendo refeições gratuitas para 40 milhões de crianças. Durante a pandemia, o país teve de adaptar rapidamente as suas legislações e produzir guias para ajudar as escolas na entrega de cestas de alimentos aos estudantes e, mais tarde, para a reabertura das escolas com segurança.
“A alimentação escolar é crucial – para crianças, para as comunidades e para os países”, disse o Diretor-Executivo do WFP, David Beasley. “Aquela refeição é, muitas vezes, a razão pela qual as crianças vão para a escola. É também a razão pela qual elas irão voltar após o fechamento das escolas. Precisamos fazer com que esses programas voltem a funcionar, de uma forma melhor do que antes, para evitar que a Covid-19 destrua o futuro de milhões de crianças”, finalizou.
Cooperação para construir um futuro melhor
O relatório apresenta o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) como um estudo de caso e detalha sua cobertura e especificidades operacionais. O PNAE atende 40 milhões de estudantes em mais de 160 mil escolas, em 5.570 municípios brasileiros. Cerca de 50.000 refeições diárias são preparadas com a supervisão de mais de 8.000 nutricionistas. O programa é dirigido pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e é monitorado por 80.000 membros do Conselho de Alimentação Escolar.
A publicação também menciona inovações desenvolvidas no Brasil, como o aplicativo “e-PNAE”, que permite que pais, alunos, professores, nutricionistas, membros do conselho escolar e toda a comunidade escolar monitorem e avaliem refeições escolares oferecidas em todo o país. Por meio da Cooperação Internacional, muitos casos de sucesso como o brasileiro têm inspirado mudanças em outros países do mundo.
As redes de informação sobre alimentação escolar em nível global e regional têm sido importantes para o intercâmbio entre agências que trabalham com alimentação escolar e com saúde e nutrição escolares. O Centro de Excelência contra a Fome do WFP no Brasil é um importante mecanismo que promove a cooperação e atualmente apoia 30 países a longo prazo.
“Uma parte importante de nossa missão aqui no Centro de Excelência do WFP no Brasil é contribuir como um fórum para a construção de conhecimento, fortalecimento de capacidades e diálogo político. Nosso principal objetivo é ajudar os países a criar e implementar soluções sustentáveis de sucesso para combater a fome, e a alimentação escolar é uma delas”, disse Daniel Balaban, representante do WFP no Brasil e Diretor do Centro de Excelência.
O poder da alimentação escolar
Entre 2013 e 2020, o número de crianças que receberam refeições escolares cresceu 9% em todo o mundo e 36% em países de baixa renda, com seus governos expandindo seus programas, de acordo com os autores do relatório, que observaram que a alimentação escolar era a rede de segurança social mais extensa do mundo. Estudos têm mostrado que as refeições escolares podem ter grande impacto na vida de uma criança de uma família pobre. Elas evitam a fome, dão suporte de saúde a longo prazo e ajudam a criança a aprender e a prosperar. Isso é especialmente verdade para as meninas: onde há um programa de alimentação escolar em andamento, as meninas ficam na escola mais tempo e, assim, as taxas de casamento infantil e gravidez adolescente diminuem.
Quando utilizam alimentos produzidos localmente, os programas de alimentação escolar também podem impulsionar a economia de uma comunidade. Eles criam demanda por alimentos mais diversificados e nutritivos, e criam mercados estáveis, apoiando a agricultura local e fortalecendo os sistemas alimentares locais. Além disso, programas eficientes de alimentação escolar rendem retornos de até US$ 9 por cada US$ 1 investido. Eles também criam empregos: de acordo com os cálculos do WFP, cerca de 1.668 novos empregos são criados para cada 100.000 crianças alimentadas.
Quais são os próximos passos?
Em um mundo pós-Covid, os programas de alimentação escolar são um investimento ainda mais prioritário, segundo os autores do relatório. Esses programas ajudam os países a construir uma população saudável e educada, apoiando o crescimento nacional e promovendo o desenvolvimento econômico.
Em 2021, o WFP construirá uma coalizão para garantir que a cobertura retorne aos níveis pré-pandêmicos e, em seguida, se expanda para chegar a cerca de 73 milhões de crianças vulneráveis que estavam sem acesso a refeições mesmo antes da pandemia. O WFP trabalhará com agências de desenvolvimento, doadores, setor privado e organizações da sociedade civil para apoiar os governos na ampliação de programas de alimentação escolar, afirma o relatório.