Um evento online promovido pelo Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos (WFP) no Brasil, em colaboração com o governo brasileiro, destacou o papel crucial desempenhado pela tecnologia no fomento à Cooperação Sul-Sul e Trilateral (CSST) para a criação e melhoria dos programas de alimentação escolar em todo o mundo. O webinar, realizado na terça-feira, 13 de setembro, fez parte da Global South-South Development (GSSD) Expo 2022, evento anual organizado pelo Escritório das Nações Unidas para a Cooperação Sul-Sul (UNOSSC) que visa mostrar os melhores e mais inovadores exemplos locais de soluções de desenvolvimento baseadas em evidências e iniciativas de países em desenvolvimento.
Durante o evento, participantes de vários países puderam aprender mais sobre como a experiência brasileira na alimentação escolar inspirou países como Lesoto, Etiópia e Angola, e o importante papel desempenhado pelas ferramentas digitais nesse processo. “Esta é uma área de relevância estratégica para o WFP porque os programas de alimentação escolar têm o potencial de prevenir a desnutrição de milhões de crianças e manter essas crianças no sistema educacional e, também, aumentar a renda futura das famílias e comunidades”, disse David Kaatrud, diretor da Divisão de Programas, Trabalho Humanitário e Desenvolvimento do WFP, durante suas boas-vindas. “O trabalho do Centro, em colaboração com o governo brasileiro, tem comprovado que compartilhar boas práticas e lições aprendidas é uma forma crucial tanto para melhorar os programas de alimentação escolar em larga escala quanto incentivar os investimentos dos países nessa área”, acrescentou.
Essas trocas ganham ainda mais relevância em um contexto de aumento das desigualdades e ameaças recentes aos ganhos de desenvolvimento vistos nas últimas décadas, principalmente como consequência da COVID-19. “A velocidade é essencial no contexto atual de uma crise alimentar global, com ações rápidas sendo necessárias para manter o ritmo de trabalho de advocacy e a mobilização nacional em torno de programas de segurança alimentar”, disse Daniel Balaban, Diretor do Centro de Excelência contra a Fome do WFP no Brasil, em suas observações. Ele também mencionou o apoio oferecido a países como Lesoto, Etiópia e Moçambique: “A assistência remota pode oferecer economias significativas aos países e escritórios de países da ONU, uma vantagem central no contexto de uma recessão global e da crescente demanda por investimentos em ações humanitárias e de desenvolvimento”.
A “Visita de Estudo Virtual: Brasil” foi desenvolvida para apoiar países que desejam continuar investindo em desenvolvimento, apesar dos desafios recentes. Com a Visita, os países têm acesso a informações cruciais sobre o programa brasileiro de alimentação escolar por meio de vídeos, documentos e webinars. “Muitos avanços tornados possíveis pela CSST ainda estão em risco e uma rápida adaptação e o uso de novas metodologias são ainda mais importantes nesse contexto”, disse Sharon de Freitas, Chefe de Programam do Centro de Excelência contra a Fome do WFP no Brasil.
Renata Mainenti Gomes, Coordenadora de Educação e Controle Social do Programa Nacional de Alimentação Escolar do Brasil (PNAE), também destacou o papel da tecnologia tanto na implementação do PNAE no Brasil quanto no compartilhamento dessas boas práticas com o mundo. A transferência de recursos, os processos de monitoramento e treinamentos são alguns exemplos de processos que hoje são digitais. Durante sua apresentação, ela também destacou a plataforma “PNAE Monitora”, utilizada pelos funcionários da alimentação escolar para realizar atividades de monitoramento; e “e-PNAE”, um aplicativo construído para a comunidade escolar monitorar os padrões de qualidade da alimentação escolar e a implementação do programa. As duas ferramentas são apresentadas na “Visita de Estudo Virtual: Brasil”.
Experiências de sucesso em cooperação digital
Masahiro Matsumoto, Diretor-adjunto do WFP Lesoto, compartilhou alguns dos principais aspectos da experiência brasileira que vêm inspirando mudanças na jornada de alimentação escolar do país. O Lesoto passou a receber apoio do Brasil, com a facilitação do Centro de Excelência do WFP, em 2013. Desde então, aconteceram visitas presenciais que ajudaram a moldar os modelos do programa de alimentação escolar do país, com um importante vínculo com a agricultura familiar. Como resultado da visita virtual, realizada em 2021, a alimentação escolar ligada à agricultura familiar está acontecendo agora em 458 escolas, e o governo está oferecendo treinamento para gestores e agricultores familiares. O país também conseguiu criar hortas escolares com o apoio dos pais em algumas localidades e está revisando suas políticas nacionais para fortalecer marcos jurídicos envolvendo diversos ministérios, para estabelecer uma estrutura semelhante à do FNDE para garantir financiamento sustentável, gestão local e coordenação multissetorial.
Na Etiópia, as visitas de estudos virtuais e presenciais permitiram que funcionários do governo e outros especialistas locais acessassem informações cruciais sobre o modelo brasileiro para inspirar o desenvolvimento do programa de alimentação escolar e agricultura familiar no país. “Aprendemos muito com o Brasil e um exemplo foi o arcabouço legal que dá ênfase à alimentação escolar que pode beneficiar os agricultores. E também beneficia a escola porque elas recebem alimentos frescos dos agricultores. Então é mutuamente benéfico”, disse Alemtsehay Sergawi, Chefe do Escritório de Coordenação de Alimentos e Nutrição, do Ministério da Agricultura da Etiópia.
Após a visita ao Brasil, o país passou a implementar diversas mudanças, incluindo o fortalecimento de plantações de alimentos com alto valor nutritivo, articulação dos Ministérios da Agricultura e da Educação, implantação de hortas escolares e o parceria com professores. “[A Etiópia] está preparando agora uma plataforma de compartilhamento de informações para realizar treinamento virtual com colegas. A partir da perspectiva do Save the Children, estamos trabalhando no fortalecimento das capacidades em nível nacional”, disse Tamene Taye, Diretor de Projetos da Save the Children Etiópia, uma das principais parceiras de alimentação escolar do país.
Em Angola, onde o programa beneficia cerca de 500.000 crianças do ensino fundamental, o governo está trabalhando para expandir a política nacional de alimentação escolar e saúde. As principais áreas de desenvolvimento também incluem capacidade técnica, sistema de implementação, monitoramento e avaliação, e um vínculo com a agricultura familiar. “Nesse processo de reestruturação, olhar para a experiência brasileira vai realmente nos ajudar com essas tarefas desafiadoras em nosso programa de alimentação escolar”, disse Souaya Kalongela, Diretora Nacional de Educação Básica e Pré-Escolar em Angola.
O evento terminou com uma discussão sobre como a digitalização tem ajudado os processos atualmente em vigor, os principais ganhos da modalidade virtual e caminhos a seguir. A embaixadora Luiza Lopes da Silva, Vice-diretora da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), encerrou o evento.