Produtores da agricultura familiar e cooperativas brasileiras que reúnem pequenos produtores rurais participaram dias 11 e 12 de novembro de uma oficina em Brasília sobre como ter acesso ao mercado global de compra de alimento.
A Oficina Mecanismos para a compra de Alimentos da Agricultura Familiar Brasileira ao Mercado Internacional reuniu cerca de 50 participantes de todo país e tratou, entre outros temas, das estratégias de acesso às vendas internacionais para o WFP, do controle de qualidade dos alimentos e do treinamento sobre cadastramento da agricultura familiar para venda ao WFP.
“O WFP é a maior agência humanitária do planeta que alimenta 170 milhões de pessoas no mundo todos os dias. Esta oficina é uma oportunidade ímpar para que as cooperativas de produtores da agricultura familiar conheçam melhor as sistemáticas das compras internacionais e possam participar dos leilões que acontecem com frequência. É uma iniciativa boa para os produtores brasileiros e para o WFP”, disse o diretor do Centro de Excelência contra a Fome do WFP no Brasil, Daniel Balaban, durante a abertura do evento.
Para o ministro Wellington Dias, do Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS), o evento estimula a produção agrícola no padrão em que o Brasil tem que operar para participar do sistema de compra de alimentos a pessoas em situação de urgência, emergência e calamidade. “É um passo grande de aprendizado com o Programa Mundial de Alimentos, que permite que nossas cooperativas acessem esse mercado internacional para contribuir com o combate da fome no mundo”, afirmou.
Fernanda Machiaveli, Ministra substituta do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), destacou o esforço do governo em articular políticas públicas de segurança alimentar que têm no seu centro o fortalecimento da agricultura familiar. “A agricultura familiar é quem fornece produtos saudáveis com base na produção cada vez mais agroecológica.”
Para ela, esse processo de construção conjunta é vantajoso para todos os envolvidos. “Ao convidar as cooperativas que congregam a agricultura familiar para esta reunião, inicia-se um processo participativo único para ajudar a simplificar as compras, para que seja fácil para os pregoeiros acessarem esse sistema seguindo as regras”, afirmou.
A oficina é oportunidade construir espaços de ação para acessar um mercado que corresponde a 2 bilhões de dólares por ano, segundo Edegar Pretto, presidente da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). “As políticas públicas estão sendo ampliadas para que as cooperativas consigam entrar no mercado internacional. A fome não tem fronteira. Vamos contribuir para produzir alimento e ajudar a combater a fome no mundo”, disse.
Entre os organizadores do evento, estão o Centro de Excelência contra a Fome do WFP no Brasil, WFP no Panamá, MDS, MDA e Conab, conforme destacou a Secretária Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional do MDS, Lilian Rahal. “Estamos em diálogo desde meados do ano passado. Ideia é retomar as políticas de apoio à agricultura familiar para viabilizar as compras internacionais por parte da agricultura familiar mais organizada”, disse.
O vice-diretor do WFP na Venezuela, Andres Rodriguez, que tem uma experiência de 20 anos na área de compras do WFP, apresentou o sistema internacional aos participantes. Ele ressaltou que em 2023, o WFP comprou 2,4 milhões de toneladas métricas de alimentos, mas que apenas 3,7% vieram da agricultura familiar. “Tenho certeza que a América Latina pode alimentar os países da região e do mundo todo. A agricultura familiar brasileira tem ainda muito espaço no mercado internacional principalmente para as vendas com fins humanitários.”
Cooperativas
Representantes de cooperativas de 15 Estados brasileiros participaram da oficina. Cledeneuza Maria Bizerra Oliveira, cooperada da cooperativa das quebradeiras de côco babaçu do Maranhão, afirmou que é importante participar de uma oficina como esta para buscar a valorização desse produto que é nativo, leva 15 anos para produzir e possui muitas qualidades nutricionais. “Queremos levar também nossos produtos, principalmente óleo e farinha, para o mercado internacional.”
Carlos Pansera, da cooperativa Terra Livre do Rio Grande do Sul, que já exporta para países como Haiti, Cuba e Venezuela produtos como leite em pó, arroz, café, feijão e sementes de hortaliças, afirmou que esta é uma grande oportunidade para também serem fornecedores do WFP.
Ele disse que existem algumas exigências do ponto de vista documental que as cooperativas precisam cumprir, mas a exportação é feita pelo Programa Mundial de Alimentos. “Nossa tarefa é produzir o alimento e levar ao porto, e toda a parte de registro de importação e exportação fica a cargo do programa, o que facilita para as cooperativas”, concluiu.