No dia 29 de agosto, o projeto Sementes para o Amanhã, uma parceria entre os governos da República do Congo e do Brasil, realizou seu primeiro workshop online, com o tema “Instituições e políticas públicas para fortalecer os agricultores familiares”. Essa é uma iniciativa da Agência Brasileira de Cooperação (ABC), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), com o apoio do Programa Mundial de Alimentos (WFP) na República do Congo e do Centro de Excelência contra a Fome do WFP no Brasil, e é financiado pelo Fundo Índia, Brasil e África do Sul para a Redução da Pobreza e da Fome (Fundo IBAS).
Segundo Gon Myers, Diretor do WFP na República do Congo, o workshop é uma oportunidade para encontrar soluções adaptadas a cada realidade. “Este encontro representa um compromisso comum de avançar neste projeto ambicioso, que é levar a agricultura familiar também para as escolas”, disse ele durante a abertura do workshop.
O evento contou com a participação de 24 representantes de diferentes níveis do governo da República do Congo, incluindo funcionários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Pescas (MAEP), do Ministério da Educação Pré-Escolar, Primária, Secundária e Alfabetização (MEPPSA), entre outras entidades.
O governo brasileiro foi representado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC), o Ministério das Relações Exteriores e por representantes do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (Anater), a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA).
“Eventos como este são essenciais para o intercâmbio entre nossos países na promoção de políticas que fortalecem a agricultura familiar e sua ligação com a alimentação escolar”, disse Riffat Iqbal, analista de projetos da ABC.
Aspectos Brasileiros
Durante sua apresentação, Roseli Zerbinato, do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), falou sobre políticas de apoio à aquisição de produtos da agricultura familiar para formação de estoques e compras institucionais. “São 10 milhões de pessoas na agricultura familiar no Brasil, e buscamos integrá-los em diversos programas para o seu fortalecimento.” Ela citou exemplos de programas voltados para o aumento da capacidade produtiva dos agricultores familiares, geração de emprego e renda, financiamento da produção e integração de sistemas sustentáveis.
Isabel Silva, da Agência Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural (ANATER), explicou como a agência coordena ações com orientação produtiva, social e ambiental. “Nossa atuação é orientada para cada território e adaptada às necessidades específicas dos produtores daquela região. Além disso, temos ações voltadas para as agricultoras e a promoção da agroecologia”, disse ela.
Sobre as políticas de abastecimento, Sérgio Santos, da gestão da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), destacou que a segurança alimentar está ligada à regulação do abastecimento no país. A regulação do abastecimento envolve o acompanhamento próximo da produção e dos preços e a garantia da distribuição das regiões produtoras para as consumidoras. “Quando o preço está abaixo do mínimo, a CONAB adquire produtos pelo preço mínimo para suavizar as flutuações do mercado e proporcionar segurança ao setor produtivo”, explicou.
O agrônomo Paulo Galerani, pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA), apresentou uma visão geral dos desafios da produção agrícola na faixa tropical, comum à República do Congo e ao Brasil. “Passamos por fases de desenvolvimento de tecnologias para adaptar produções de áreas temperadas, como a soja, ao clima tropical.”
Ele mencionou três pilares para essa adaptação: converter solos ácidos em férteis, tropicalizar sementes e animais, e desenvolver plataformas que evitem a perda de solo e biodiversidade. “Hoje temos sistemas integrados de cultivo-pecuária-florestal e sistemas agroflorestais, ambos adequados para os agricultores familiares”, disse.
Ele também mencionou o potencial de cooperação na melhoria convencional de culturas como soja, trigo, arroz e feijão, bem como em pesquisas sobre cabras, ovelhas e culturas do semiárido, como mandioca, banana, mamão, abacaxi, maracujá e laranja. Ele enfatizou que a maior parte da produção agrícola do Brasil vem da agricultura familiar, destacando a importância das políticas nesse setor.
Representantes Congoleses
Após as apresentações brasileiras, as autoridades da República do Congo compartilharam suas impressões, enfatizando as semelhanças entre os países.
O Sr. N’Kaya-Tobi, Diretor-Geral de Pecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Pescas da República do Congo, destacou a relevância de entender a realidade do Brasil. “Descobrimos um país onde a agricultura familiar está no centro das políticas, ações e pesquisas, tornando-se fundamental para a produção agrícola da nação”, afirmou.
O Ministério da Agricultura solicitou parcerias estratégicas na produção agrícola para regiões semiáridas, uma prioridade para a República do Congo, além de esclarecimentos sobre estoques alimentares, conservação de perecíveis e políticas de preços ao longo do ano.
A Sra. Lilie Ebelayala, Gerente de Finanças e Materiais da Diretoria de Alimentação Escolar do Ministério da Educação Pré-Escolar, Primária, Secundária e Alfabetização da República do Congo, expressou preocupação com a transformação de solos ácidos, que poderia ter impactos futuros, já que são utilizados insumos químicos. Em resposta, Paulo Galerani, da EMBRAPA, explicou que bioinsumos são usados hoje para substituir produtos químicos, a fim de manter a biodiversidade. “Passamos por uma fase de uso intenso de produtos químicos, mas hoje essa tendência está se revertendo, e estamos dispostos a compartilhar essa tecnologia com nossos colegas da República do Congo”, disse ele.
Próximos Eventos
Um total de três workshops online serão realizados este ano. Os próximos estão programados para 19 de setembro e outro em novembro. Os workshops focarão em diferentes aspectos do programa de alimentação escolar, trocas entre os dois governos sobre a produção agrícola local e monitoramento do programa.