“As visitas que já fiz a diversas escolas em países africanos foram certamente a experiência mais marcante do meu trabalho no Centro de Excelência contra a Fome. A estrutura das escolas e dos programas de alimentação escolar é muito diferente do que eu já tinha visto. Isso me deu a dimensão do desafio de assegurar alimentação escolar para todas as crianças na África”.
O depoimento de Vinícius Limongi sobre seus sete anos de trabalho na área de programas do Programa Mundial de Alimentos mostra a profundidade de seu compromisso com o trabalho de cooperação Sul-Sul realizado pelo Centro de Excelência, a maioria deles no continente africano. E explica também por que ele é nosso funcionário do mês de julho.
Vinícius deixou sua cidade natal, Goiânia, para estudar relações internacionais na Universidade de Brasília. “Me interessei por esse curso inspirado por um professor de história do ensino médio que fazia mestrado em relações internacionais. Decidi estudar na UnB porque era considerado um dos melhores cursos da área”. Ele começou sua vida profissional como garçom, aos 20 anos de idade. “Quando virei bar tender foi o ápice da minha carreira”, brinca.
Em pouco tempo, no entanto, ele conseguiu seu primeiro estágio remunerado, na ONU Meio Ambiente, agência das Nações Unidas responsável por promover a conservação do meio ambiente e o uso eficiente de recursos naturais no contexto do desenvolvimento sustentável. Ele era estagiário na área de administração e prestava apoio à equipe de programas. Depois de três anos na instituição, Vinícius começou um estágio no Supremo Tribunal Federal.
No STF, ele trabalhava na assessoria internacional e apoiava as ações de cooperação jurídica com países do Mercosul. Juízes, advogados e estudantes de direito desses países vinham ao Brasil para trocar experiências sobre práticas jurídicas. “Essas foram minhas primeiras experiências recebendo delegações de outros países para visitas de estudos”, conta Vinícius. Foi no STF também que o jovem profissional desenvolveu um hábito que nunca perdeu: tirar os sapatos e circular pelo escritório só de meias. “Uma vez fui flagrado pelo presidente do STF andando só de meias no corredor do gabinete dele. Ele olhou para os meus pés, deu um sorriso, e continuou caminhando. E eu continuo caminhando de meia”, conta.
Em 2012, logo que se formou, Vinícius passou no processo seletivo para trabalhar no Centro de Excelência. O Centro tinha sido oficialmente inaugurado em novembro de 2011 e ainda estava estruturando sua equipe – mas as atividades de cooperação já estavam a pleno vapor. A primeira grande tarefa de Vinícius foi organizar e acompanhar uma visita de estudos para delegações de cinco países: Senegal, Níger, Moçambique, Etiópia e Malawi. “Eram mais de 30 pessoas, que falavam três línguas diferentes, se deslocando pelo Brasil. Foi muito puxado, mas muito bom, porque era um tema novo para mim”. A equipe técnica do Centro de Excelência levou os visitantes a Arapiraca, uma cidade no interior de Alagoas, para conhecer a experiência local de compras públicas da agricultura familiar.
Desde essa primeira visita de estudos, Vinícius organizou e participou de muitas outras, além de diversas missões técnicas a países africanos. Cada viagem rende uma aventura diferente e um bom caso para contar. “Uma vez, na Paraíba, com uma delegação de autoridades do Quênia, tivemos vários problemas com os ônibus que contratamos para nos transportar de João Pessoa às cidades que visitamos. Primeiro o ônibus atolou na lama. Depois, numa estrada, estourou um pneu e não tinha step. Já era noite e eu assegurei que toda a delegação fosse acomodada no segundo ônibus e transportada em segurança para o hotel. Eu precisei esperar algumas horas até que um outro carro me buscasse”.
Essas viagens rendem muito mais do que boas histórias, rendem também aprendizados. “Visitar e interagir com governos de outros países me ajudou a colocar em perspectiva o que já conseguimos alcançar no Brasil e também me deu mais clareza sobre que tipo de atuação o Centro de Excelência e eu como profissional devemos ter para apoiá-los”, afirma.
“O Centro de Excelência tem o papel importante de servir como ponte entre países que conseguiram encontrar soluções para melhorar o cuidado com sua população, principalmente crianças, e países que estão tentando fazer o mesmo e precisam de ajuda. A bagagem que acumulamos ao longo desses anos encurta essas distâncias e acelera esses processos”, explica Vinícius.
“No mundo inteiro, há pessoas que dependem do trabalho diário das Nações Unidas para sobreviver. A ONU é crucial para pessoas que precisam de comida, abrigo, remédios, e é também a chave para melhorar a situação dessas pessoas e dos lugares em que elas vivem para que elas não precisem mais de ajuda. Hoje o Brasil está na posição de ajudar outros países, mas houve uma época em que éramos um país que precisava receber ajuda. Essa realidade pode parecer muito distante de nós, mas tem gente hoje que só vai comer porque a ONU está fazendo o seu trabalho”.