Uma delegação de 16 representantes do governo da Etiópia encerrou nesta sexta-feira, 10 de junho, uma visita de campo de uma semana a Brasília para conhecer de perto o programa brasileiro de alimentação escolar, especialmente as ações de nutrição e desenvolvimento rural. Durante a visita, os Ministros de Agricultura e Horticultura, Meles Mekonen Yimer, e da Pecuária de da Pesca, Fikru Regassa Gari, especialistas de várias áreas e parceiros da ONG Save the Children participaram de reuniões técnicas com entidades brasileiras e de visitas de campo. A visita presencial é parte de um processo de troca de experiências com o Brasil, organizado pelo Centro de Excelência contra a Fome do Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP), em parceria com a Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), e incluiu também encontros virtuais.
A Etiópia atualmente opera um projeto-piloto de alimentação escolar em sua capital Adis Abeba e a parceria visa auxiliar o país a transformar seu setor agrícola, principalmente por meio de políticas sensíveis à nutrição, promovendo o compartilhamento de conhecimento e boas práticas. “Pudemos ver as modalidades de arranjo de políticas públicas, com apoio de leis, coordenação entre diferentes sistemas, como agricultura, saúde, educação e economia. Esses são sistemas que conhecemos aqui no Brasil e que levaremos de volta para casa pra tentar expandir o que que atualmente só acontece em Adis”, disse Fikru Regassa Gari, Ministro da Pecuária e da Pesca da Etiópia.
Outro motivador para a visita da delegação foi encontrar soluções para o problema de desnutrição infantil do país. Em uma visita a uma escola pública em Brasília, a importância de um programa de alimentação escolar sensível à nutrição ficou evidente. Fabiana Napoli, responsável pela alimentação escolar na Escola Parque 313 Sul, explicou que a estratégia inclui cardápios diversificados, com apresentações criativas e variadas dos alimentos, participação dos alunos na horta escolar e outras atividades de educação alimentar e nutricional. Ela explicou que a escola decidiu oferecer café da manhã no lugar do lanche, além de um almoço farto: “Deixamos que a criança se sirva com fartura pois sabemos que, muitas vezes, a única refeição que ela vai fazer naquele dia será aqui na escola”.
Na visita à Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal (EMATER), na região de Planaltina, a delegação conheceu os detalhes do programa de auxílio a pequenos agricultores e como funciona a lei que faz com que 30% da compra de alimentos para alimentação escolar venha da agricultura familiar. Atualmente, a EMATER atende mais de 2 mil propriedades rurais e cerca de 2.500 famílias. Os principais produtos da região incluem frutas, legumes, flores, avicultura e pecuária – principalmente leite. Em seguida, a delegação seguiu para o Sítio Araúna, gerido por agricultores familiares beneficiários da EMATER e que produz alimentos orgânicos para consumo local e para fornecimento às escolas.
A delegação também conheceu a Ceasa-DF (Centrais de Abastecimento do Distrito Federal) e um banco de alimentos que recebe e distribui alimentos para 161 instituições locais. “O Banco faz a intermediação entre as instituições e a Emater para garantir qualidade e variedade dos alimentos. Portanto, entendemos as necessidades das populações atendidas para que o envio dos alimentos aconteça com constância e qualidade”, explicou Lidiane Pires, Diretora de Segurança Alimentar e Nutricional do Ceasa.
Meles Mekonen Yimer, Ministro de Agricultura da Etiópia, explicou que o país enfrenta problemas de desnutrição entre crianças, lactantes e população em geral, além de enfrentar problemas de escassez e acesso a alimentos. “Aqui vimos boas experiências, especialmente em alimentação escolar, começando com os chefes de governos, legislativo, diretorias e as comunidades no campo, as escolas e instituições governamentais. Vimos esse comprometimento para incluir a questão da nutrição no seu trabalho”, disse.
Tamene Taye, Diretor do projeto Nutrição Sensível para a Agricultura e Fortalecimento de Capacidades na Etiópia (NSA CASE), na ONG Save the Children, também comentou que um dos principais aspectos observados durante a visita foi a forma como as políticas e estratégias de país são compartilhadas em todos os níveis, desde ministros até cooperativas agrícolas. “Em todos os níveis, você tem estrutura de apoio que facilita a execução de atividades específicas em todos os níveis administrativos”, disse. Tamene Taye também destacou a importância da agricultura familiar para programas sensíveis à nutrição. “O projeto de extensão rural que o Brasil tem no terreno é muito organizado e a ligação direta com o agricultor, com mecanismo de feedback no qual os agricultores expressam as áreas em que querem ser treinados. Essa é uma excelente abordagem em termos de melhorar a produtividade e alcançar as necessidades dos agricultores no campo”, disse. A ONG tem trabalhado com o governo etíope para reduzir os níveis de desnutrição e expandir o programa de alimentação escolar do país.
Reuniões técnicas
Além das visitas externas, a delegação também teve a oportunidade de conversar com especialistas Brasileiros. No primeiro dia, a delegação foi recebida na sede do Ministério das Relações Exteriores para uma sessão de abertura com participação de representantes do Ministério de Agricultura, do Centro de Excelência do WFP, da Agência Brasileira de Cooperação, do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e da Embaixada da Etiópia no Brasil. O grupo também se reuniu com a Coordenação Geral de Alimentação e Nutrição do Ministério da Saúde, com a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) e com a Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério da Agricultura.
No último dia, a equipe técnica do Centro de Excelência facilitou sessões de planejamento estratégico para auxiliar o país no processo de aplicação prática do conhecimento adquirido durante a visita. “A proteção social deve ser integrada e reunir programas em diferentes áreas, como apoio à agricultura, geração de empregos, assistência alimentar, entre outras, todas trabalhando em direção a um objetivo comum: criar uma política sustentável de combate à fome e criar um país sem pobreza. Se foi possível para um país como o Brasil, acredito fortemente que também seja possível para o seu país”, disse Daniel Balaban, diretor do Centro de Excelência do WFP, durante seu discurso de encerramento.
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