São Paulo sediou a Conferência Internacional sobre Difusão de Políticas Públicas e Cooperação para o Desenvolvimento, de 16 a 19 de maio. O evento teve como objetivo construir uma rede global para promover o diálogo entre acadêmicos e pesquisadores interessados em duas áreas tradicionais de pesquisa: difusão de políticas públicas e cooperação para o desenvolvimento. O evento foi uma oportunidade de promoção do debate sobre temas de vanguarda nos dois campos de pesquisa. O Centro de Excelência contra a Fome apresentou dois artigos na conferência.
Christiani Buani e Bruno Magalhães, da Unidade de Programas do Centro, apresentaram o artigo “Formulação de políticas baseadas em evidências no Sul Global: intercâmbio de conhecimento estabelecendo agendas africanas de desenvolvimento”. A apresentação fez parte do painel Difusão de Agendas Sociais e Econômicas. O segundo artigo, apresentado no painel Difusão de Políticas Sociais, tentou responder uma questão: “A cooperação trilateral supera lacunas da cooperação tradicional? Evidências da cooperação ONU-Brasil em segurança alimentar”. A pesquisa foi realizada por Fabiano Toni, professor do Centro de desenvolvimento Sustentável da Universidade de Brasília, e Isadora Ferreira, oficial de comunicação do Centro de Excelência.
De acordo com os organizadores do evento, “difusão de políticas públicas e cooperação para o desenvolvimento são dois campos de pesquisa intrinsecamente ligados. No entanto, cada área de pesquisa seguiu um caminho específico, o que resultou em agendas de pesquisa independentes e no surgimento de conceitos, métodos e teorias específicos para interpretar seus objetivos de estudo. De muitas formas, a análise sobre o cenário global atual se beneficiaria caso esses dois campos se aproximassem”.
Os organizadores também argumentam que “a difusão de políticas públicas frequentemente acontece direta ou indiretamente por meio da cooperação internacional. Às vezes, a difusão é uma parte crucial de projetos de cooperação para o desenvolvimento. Isso se tornou mais frequenta com a cooperação Sul-Sul, em que modelos de políticas desenvolvidos em economias emergentes, como o Brasil, são transferidos para a América Latina, a África e a Ásia”.
Em meio a esse debate, o trabalho do Centro de Excelência emerge como um exemplo de difusão de políticas públicas via iniciativas de cooperação Sul-Sul. Buani e Magalhães discutem a abordagem do Centro na geração de conhecimento que possa levar a novos padrões de comportamento de formuladores de políticas. Os autores usaram como exemplo as interações do Centro com a União Africana desde 2012. O Centro aliou-se à União Africana para difundir entre estados membros a importância do investimento em alimentação escolar como estratégia de promoção do desenvolvimento econômico e sustentável. O resultado foi a ampliação do compromisso dos países com a agenda da alimentação escolar e maior apoio político e técnico às iniciativas nacionais de alimentação escolar.
Toni e Ferreira investigaram se o Centro de Excelência, um arranjo de cooperação trilateral estabelecido pelo governo brasileiro e pelo Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas, representa um novo modelo de cooperação para a inovação de políticas públicas. Os autores argumentam que arranjos de cooperação trilateral feitos com apoio do Centro se afastam da assistência internacional e da cooperação tradicional baseada em transferência de políticas públicas. Esse tipo de cooperação pode ajudar os países em desenvolvimento a repensar o desenvolvimento em seus próprios termos. “No
entanto, isso não significa que essa mudança ocorrerá no curto prazo, já que emergências alimentares e recuperação de desastres requerem ações imediatas. Governos nacionais também podem escolher opções políticas com impactos imediatos e maior visibilidade e retorno eleitoral. Assim, a cooperação trilateral e a tradicional acabam sendo modelos complementares de difusão de políticas públicas, em vez de competirem entre si”, concluem