“O que me atraiu foi o caráter inovador da proposta do Centro de Excelência contra a Fome e a possibilidade de levar a política pública de alimentação escolar desenvolvida no Brasil para o âmbito global”.
Com essa visão, Christiani Buani começou a trabalhar no Centro de Excelência em 2011, quando a instituição estava sendo criada em parceria pelo governo brasileiro e o Programa Mundial de Alimentos. De lá para cá, Christiani se tornou a chefe da unidade de programas do Centro, já visitou 39 países, 27 deles na África, e dedicou suas habilidades e conhecimentos para ajudar mais de 30 países a construírem seus próprios programas de alimentação escolar, inspirados pela experiência brasileira.
Christiani foi escolhida pelo Centro de Excelência para representar nossa equipe na celebração do Dia Mundial Humanitário, que homenageia os milhares de mulheres e homens que dedicam suas vidas ao trabalho humanitário.
Formação
Christiani se formou em direito, ciência política e relações internacionais. O gosto pelos estudos a levou a concluir dois cursos de mestrado e o doutorado em direito internacional. A escolha da área de pesquisa já apontava os rumos de sua futura atuação profissional: a ligação entre emergências e desenvolvimento em contextos de reconstrução de estados.
Antes de trabalhar no Centro de Excelência, Christiani trabalhou por quatro anos no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Atuando na assessoria internacional do órgão, Christiani teve a oportunidade de participar do processo de construção da inovadora lei brasileira de alimentação escolar, oferecer treinamento para gestores e demais atores do programa de alimentação escolar e contribuir para o monitoramento do programa.
“As atividades de monitoramento me proporcionaram o contato com o dia a dia da alimentação escolar e com as pessoas que executavam o programa, tanto no nível da gestão central quanto na implementação na ponta”, conta Christiani.
Desafio
Foi também no FNDE que Christiani recebeu as primeiras delegações de países em desenvolvimento interessados em conhecer a experiência brasileira de alimentação escolar. Daí a encarar o desafio de montar do zero o Centro de Excelência contra a Fome foi um passo.
O trabalho na Organização das Nações Unidas sempre atraiu Christiani, pela possibilidade de ter contato com outras realidades, que não apenas a brasileira. “Eu já tinha visto países se beneficiando do contato com o Brasil e o Programa Nacional de Alimentação Escolar e percebi que a parceria com o Programa Mundial de Alimentos poderia contribuir para transformar muitos países por meio de uma iniciativa de cooperação brasileira”.
A ideia era muito promissora, mas colocá-la em prática não foi fácil. “Não tínhamos pessoa jurídica, conta bancária, escritório, plano de trabalho. Precisávamos trabalhar junto ao governo brasileiro e ao PMA para mostrar que nossa ideia poderia trazer resultados. Felizmente tivemos o apoio de pessoas chave no Brasil e no PMA para dar concretude à inovação que estávamos propondo”, conta.
Christiani destaca como desafio o fato de o Centro de Excelência já ter nascido com uma grande demanda, que precisava ser atendida rapidamente, apesar da falta de estrutura. “Até hoje é complexo explicar o que fazemos, com todas as dimensões. Falava-se muito em cooperação Sul-Sul quando Centro foi criado, mas não tínhamos exemplos concretos para inspirar nosso trabalho. Nossa criatividade e capacidade de adaptação foram levadas ao limite o tempo todo”, relata Christiani.
“Além disso, tínhamos a grande chance de inovar os modelos de parceria e queríamos muito fazer funcionar e demonstrar o potencial da iniciativa. Tínhamos que construir e manter a confiança dos governos, que se tornaram nossos principais interlocutores, e para isso precisávamos entregar o que prometíamos, mesmo em cenários nem sempre favoráveis”.
Conquistas
Os resultados do trabalho de cooperação e assistência técnica realizado pelo Centro de Excelência não são imediatos – e nem sempre são facilmente percebidos. “Durante os primeiros anos, plantamos a semente da transformação que queríamos alcançar. Quando começamos a ver os primeiros resultados, foi incrível”, revela Christiani.
“As conquistas de cada país nos motivaram a continuar, como ver em Ruanda o impacto da parceria com o Brasil, ou ver que de 2011 a 2015 o Senegal criou uma estrutura institucional para impulsionar a alimentação escolar, ou ver o Zimbábue criar um programa de alimentação escolar depois de visitar o Brasil. Benin, Togo, Quênia, Costa do Marfim, Gana, Laos, Bangladesh – são tantos exemplos de superação pelos países que fica difícil enumerar só alguns. Os resultados abrangem diversas dimensões, e esse é um dos benefícios do investimento em desenvolvimento de capacidades”, explica.
O ponto alto dos sete anos de trabalho, no entanto, foi a decisão de 2016 da União Africana de adotar a alimentação escolar como estratégia continental de promoção do desenvolvimento sustentável. “A União Africana é a voz da África, e os países confiam nessa voz”, explica Christiani. “O Centro de Excelência, junto com colegas muito engajados do escritório do PMA junto à União Africana e no Regional da África do Oeste, ajudou os chefes de estado da União Africana a perceber a necessidade de investir em alimentação escolar para desenvolver todo o potencial da África”, completa.
“Quando comecei a trabalhar com alimentação escolar, senti que tudo o que tinha estudado fazia sentido, porque é uma política pública que realmente tem impacto na vida das pessoas, e eu pude ver os efeitos que o programa brasileiro tem nas famílias, comunidades, agricultores familiares. É por isso que acredito que seja tão importante os países virem ao Brasil e verem de perto como o programa brasileiro é planejado e executado e quais são os resultados. É uma inspiração com um enorme potencial transformador, que motiva os países a promoverem mudanças mais amplas”.