Quem seleciona uma mulher grávida para um trabalho? O WFP!
Meu nome é Isadora Ferreira e sou a responsável pela área de comunicação do Centro de Excelência contra a Fome. Desde janeiro deste ano, estamos divulgando ao final de cada mês o perfil de um funcionário ou funcionária, como parte da nossa estratégia de aproximar o trabalho do Centro de Excelência, e da Organização das Nações Unidas como um todo, do cotidiano das pessoas. Este mês de maio, por ocasião do dia das mães comemorado no Brasil e em vários outros países, estava pensando em quem poderia ter uma boa história relacionada à maternidade e me dei conta de que a história mais curiosa era a minha própria. Afinal, fui selecionada para trabalhar no escritório do Programa Mundial de Alimentos no Brasil quando estava grávida de oito meses.
O ano era 2012, e a Rio+20, como ficou conhecida a Conferência da ONU sobre Desenvolvimento Sustentável, tinha acabado de ser encerrada. Eu estava voltando do Rio e vi um anúncio de uma vaga de comunicação no Programa Mundial de Alimentos, que tinha aberto um escritório no Brasil no ano anterior. Durante toda a minha vida profissional, desde meu primeiro estágio, eu tinha trabalhado em organizações não-governamentais, fundações e instituições de cooperação internacional, e trabalhar numa agência da ONU seria a realização do meu maior sonho profissional. Enviei meu currículo.
Não obtive nenhuma resposta e achei que tinham selecionado outra pessoa para a posição. Logo depois, descobri que estava grávida. Eu estava tão feliz com a gravidez – e tão enjoada – que nem tive tempo para pensar na vaga que tinha perdido. Os meses passaram, a barriga cresceu e, em janeiro de 2013, com um barrigão de sete meses, recebi uma ligação da pessoa de recursos humanos, me informando que o processo de seleção tinha ficado suspenso e perguntando se eu ainda estava interessada em concorrer para a vaga de comunicação. Respondi que sim, mas que estava grávida de sete meses.
“Meus parabéns, você estaria disponível para fazer uma prova na próxima quarta-feira?”, foi a resposta. Eu duvidei dos meus ouvidos. Pensei: “acho que ela não deve ter escutado o que eu disse”. Mas respondi educadamente: “sim, posso fazer a prova no dia e horário que você está propondo”. Apesar de ter quase nenhuma esperança de que poderia conseguir aquela vaga no final de uma gravidez, me preparei para a prova como se fosse a mais importante da minha vida. Me tranquei num quarto (confesso que precisei sair algumas vezes para ir ao banheiro, porque grávida vai ao banheiro muitas vezes!), me concentrei nas tarefas que foram solicitadas e enviei minha prova confiante de que tinha feito um bom trabalho.
Eu sabia que tinha feito um bom trabalho, mas nem assim acreditava que seria chamada para a próxima fase. Imaginem minha surpresa quando recebi uma segunda ligação do RH me chamando para uma entrevista. Não sabia nem o que pensar. Achei que não podia ser sério. Quem considera contratar uma mulher que vai tirar licença maternidade em pouco tempo? Logo me ocorreu uma outra dúvida: que tipo de roupa uma mulher grávida usa numa entrevista de emprego? Podem fazer uma busca aí na internet: ninguém sabe! O que aparece como resultado da busca são discussões sobre se uma mulher deve ou não revelar que está grávida na entrevista de emprego – o que por si só já mostra como é difícil para nós mulheres conseguir um trabalho durante a gravidez. Não revelar que estava grávida não era nem uma opção para mim naquele momento.
Então coloquei um vestido vermelho e fui para a entrevista. Foi um daqueles momentos em que parece que a gente está inspirada. Eu tinha resposta para tudo, tinha casos para demonstrar minhas habilidades e achei o painel de entrevistadores muito simpático. Ao final da entrevista eles abriram espaço para eu fazer perguntas e tirar dúvidas. Eu só tinha uma pergunta: eles estavam mesmo considerando contratar uma mulher grávida? A resposta foi que isso não era suficiente para não considerar uma candidata.
Ainda assim, eu estava reticente. Após a entrevista, me pediram para fazer uma segunda prova. Eu fiz e, quando tudo terminou, liguei para o meu marido. “Poxa, eu acho que fui muito bem, acho que o painel gostou de mim e das minhas respostas. Se eu não estivesse grávida, acho que poderia ser selecionada”. Apesar de ter ido bem, tinha certeza de que se um outro candidato tivesse tido desempenho similar ao meu, ele (ou ela) seria selecionado, pelo simples fato de não ter uma licença maternidade num horizonte tão próximo.
Alguns dias mais tarde, recebi a ligação que me traria a chance de finalmente realizar meu sonho. Eu tinha sido selecionada para a vaga. E, sim, eles esperariam meu filho nascer e eu tirar minha licença maternidade. O barrigão de oito meses já não me permitia pular, mas por dentro eu estava saltando de alegria. Era simplesmente inacreditável!
Minha gratidão pela equipe do Programa Mundial de Alimentos no Brasil é infinita. Além de um emprego maravilhoso, a coragem deles de escolher uma mulher grávida me trouxe também a sorte de sair de casa todos os dias de manhã para ir para o escritório com a certeza de que meu trabalho vai contribuir para levar alimentação escolar a todas as crianças, ajudar a vencer a fome no Brasil e em mais de 30 países e contribuir para que o mundo seja um lugar melhor e mais justo para todas as pessoas.