Desde a adolescência, o tema da fome inquietava Maria Luiza da Silva. Natural de João Pessoa (Paraíba), a família percorreu o sertão nordestino em busca de trabalho na zona rural, especialmente em plantações de algodão. A inquietação a levou à obra de Josué de Castro, grande estudioso do tema. Depois, com as leituras, decidiu estudar História na faculdade. “Queria entender o mundo, responder perguntas profundas, incluindo como se deu o desenvolvimento da humanidade e do conhecimento, e como, diante de tanta riqueza e produção, ainda há fome no mundo”, conta Maria Luiza.
Durante a graduação, o tema da fome esteve sempre presente nos trabalhos acadêmicos. Ela também começou a fazer contatos com intelectuais da área, que depois passariam a compor o hoje extinto Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). Fez especializações em Saúde e Gestão Pública, e atuou em vários órgãos da administração do Distrito Federal, incluindo em projetos no setor de abastecimento alimentar. Durante esse tempo, conheceu mais sobre a realidade dos agricultores familiares da região e passou a atuar no primeiro programa de segurança alimentar e nutricional no governo distrital, o subprograma Ação contra a Fome e o Desemprego, coordenado pela Secretaria de Agricultura.
Também trabalhou no Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), na Coordenação da Agricultura Familiar para a Alimentação Escolar. A equipe tinha o papel de implementar, em todo o território nacional, a nova modalidade de aquisição de gêneros alimentícios diretamente da Agricultura Familiar e do Empreendedor Familiar Rural. Esse projeto foi resultado de um novo marco legal criado pelo Governo Brasileiro, a Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009. “Nós queríamos uma política de segurança alimentar que incluísse produção da agricultura familiar e que esses produtores tivessem acesso às grandes políticas públicas. E isso hoje é uma referência mundial, exportamos esse modelo para vários países”, lembra Maria Luiza.
Trabalho no Centro de Excelência do WFP
A chegada ao Centro de Excelência aconteceu por uma vaga de consultoria dentro do Projeto Além do Algodão, que tem como objetivo apoiar pequenos produtores de algodão e instituições públicas de países africanos a vincular subprodutos de algodão (óleo de semente, torta etc.) e culturas consorciadas (milho, sorgo e feijão) a mercados seguros, incluindo programas de alimentação escolar. “Eu li sobre o projeto e lembrei da minha infância. É um projeto maravilhoso para quem trabalha com segurança alimentar e nutricional, com alcance em vários países, identificando as boas práticas que possibilitam o agricultor familiar a ter acesso às políticas públicas, gerando renda e garantindo sua segurança alimentar e nutricional”, diz.
O trabalho envolveu pesquisas em quatro municípios do norte de Minas Gerais para identificar boas práticas de produção de alimentos em modelo consorciado com algodão e venda para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). “São políticas estruturantes, que garantem a segurança alimentar dessas populações, garantem crescimento”, detalha Maria Luiza. “Esses agricultores vão de aprimorando, vão buscando novas oportunidades, e já passam a processar sua produção, com isso aumentando a renda.” A pesquisa está sendo preparada para publicação e estará disponível na nossa biblioteca em breve.
Agora, Maria Luiza está trabalhando em outro projeto de identificação de boas práticas em dez municípios nos estados de Pernambuco e Piauí, região onde ocorre produção orgânica de algodão com culturas consorciadas.