Em 2020, houve um agravamento dramático da fome mundial, segundo dados divulgados hoje pela Organização das Nações Unidas (ONU), situação que está relacionada às consequências da COVID-19. Embora o impacto da pandemia ainda não tenha sido totalmente mapeado, o relatório elaborado por várias agências da ONU estima que até 811 milhões de pessoas estavam desnutridas no ano passado, o que representa um aumento de mais de 160 milhões de pessoas em comparação com 2019. O número sugere que será necessário um tremendo esforço para o mundo cumprir sua promessa de acabar com a fome até 2030.
A edição deste ano de O Estado da Segurança Alimentar e Nutricional no Mundo (SOFI, na sigla em inglês) é a primeira avaliação global desse tipo na era da pandemia. O relatório é publicado em conjunto pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas (WFP) e a Organização Mundial de Saúde (OMS). Para refletir a incerteza adicional gerada pela pandemia, a edição deste ano pela primeira vez apresenta um intervalo (720 milhões a 811 milhões), em vez de um único número.
Os aumentos mais acentuados na insegurança alimentar moderada ou grave em 2020 ocorreram na América Latina e no Caribe e na África. Dos 2.37 bilhões de pessoas que enfrentam insegurança alimentar moderada ou grave, metade (1.2 bilhão) estão na Ásia, um terço (799 milhões) na África e 11% (267 milhões) na América Latina e no Caribe, ou seja, é mais do que toda a população do Brasil (213 milhões). Isso significa que na América Latina e no Caribe, 41% da população apresentava insegurança alimentar moderada ou grave em 2020 e 14% apresentava insegurança alimentar grave.
“Nossos piores medos estão se tornando realidade. A realidade é pior do que o esperado. Em apenas um ano, o número de pessoas afetadas pela fome crônica aumentou mais do que nos cinco anos anteriores combinados. Reverter esses altos níveis de fome crônica levará anos, senão décadas. Devemos nos comprometer agora a trabalhar juntos nos níveis nacional, regional e global para reconstruir vidas melhores mais rapidamente. O custo da inação é simplesmente alto demais para todos nós”, disse o economista-chefe do WFP, Arif Husain.
Além disso, muitas regiões e países estão lidando cada vez mais com várias formas de má nutrição simultaneamente. Essa coexistência de desnutrição com sobrepeso e obesidade nos domicílios e populações, denominada “dupla carga da má nutrição”, é uma das mais alarmantes. Isso tem aumentado na América Latina, impulsionado pelo marketing liderado pela indústria alimentícia e maior acesso a alimentos altamente processados, muitas vezes ricos em energia, gorduras, açúcares e sal. A falta de acesso a dietas saudáveis e a baixa qualidade da dieta na maioria dos países trazem impactos negativos e aumentam a probabilidade de deficiências de micronutrientes e, junto com a diminuição da atividade física, está exacerbando o sobrepeso e a obesidade, bem como as doenças crônicas não transmissíveis, para muito além da duração da pandemia. Isso afeta especialmente as crianças.
O Centro de Excelência contra a Fome do WFP no Brasil está se concentrando em ajudar os países a enfrentar esse problema por meio do projeto Nutrir o Futuro. A iniciativa promove diálogos com países para discutir ações locais em andamento e melhores práticas para contribuir para o diálogo mais amplo sobre políticas de segurança alimentar e nutricional, especialmente no âmbito do sobrepeso e obesidade. As colaborações entre países promovidas pelo Centro de Excelência do WFP estão incentivando soluções inovadoras em nutrição e a infraestrutura online e o compartilhamento de conhecimento que o projeto está promovendo desempenham um grande papel durante a pandemia da COVID-19 para consolidarmos o Centro de Excelência como um hub regional em nutrição.